Título: Cenário exige queda progressiva dos juros
Autor: Monteiro, Ricardo Rego; Totinick, Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 22/01/2009, Economia, p. A20

Com agravamento da crise, novos cortes na Selic serão necessários, dizem especialistas

Ludmilla Totinick

Para os economistas ouvidos pelo JB, a redução de um ponto per- centual na taxa básica de juros, a Selic, não causou estranheza diante dos últimos dados de desemprego e da queda da produção industrial no mês de dezembro no país. O que surpreendeu, segundo os especialistas, foi a mudança da estratégia do Banco Central, agora mais ousado diante dos sinais não só de deflação, como também de agravamento da crise econômica. Professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), o especialista em inflação Luiz Roberto Cunha afirma que a decisão de ontem mostra a preocupação do Copom com a queda do nível da atividade econômica do Brasil, como reflexo da rapidez do impacto da crise mundial.

Cunha afirma que o cenário atual indica a perspectiva de convergência da inflação para o centro da meta nos próximos meses. O economista prevê ainda novas quedas da Selic nas próximas reuniões, pois diz não ter dúvida de que a crise se agravará muito nos próximos meses. ­ Infelizmente, esta é a realidade, principalmente, quando se refere ao sistema financeiro dos Estados Unidos e Inglaterra, e que já provoca sérios efeitos no Brasil ­ enfatiza. ­

Hoje (ontem) o próprio Paul Volcker, ex-presidente do Fed (o banco central americano), que integra a equipe do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que o fim da crise "não está a alcance dos olhos". Ao compartilhar da mesma reação, o economista Gilberto Braga, professor de Finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-RJ), diz que os resultados muito ruins da taxa de emprego e da produção industrial em dezembro foram responsáveis pelo maior corte. ­ Há duas semanas, esta não era a expectativa do mercado, mas diante das últimas constatações, um ponto percentual era o mais indicado ­ concorda. Braga diz ainda que existe a necessidade de queda progressiva dos juros para que a economia não sofra tanto.

Empresários e indústria

Para Orlando Diniz, presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio (Fecomércio- RJ), a queda é importante, ainda mais no começo do ano, período em que os empresários do setor decidem sobre novos investimentos e contratação ou efetivação de temporários. ­ Esperamos que essa decisão inaugure uma trajetória declinante para os juros ­ diz. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) chamou a resolução de sensata e pragmática. Para Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Copom tem que ser mais rápido ao diminuir os juros. ­ Não podemos esperar 45 dias para uma nova queda.

O ideal é chegarmos, o quanto antes, a 8% ou 9%. Só assim poderemos ser mais competitivos na economia globalizada ­ diz Skaf, que defende maiores investimentos em infra-estrutura e redução da carga tributária. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) informou em nota que aprova o corte, mas pede reformas estruturais, "em particular a reforma tributária no que diz respeito à desoneração da produção, do investimento e das exportações".