Título: BC surpreende e reduz juro a 12,75%
Autor: Monteiro, Ricardo Rego; Totinick, Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 22/01/2009, Economia, p. A20

Por cinco votos a três, Copom promove maior cor te da Selic desde dezembro de 2003

CONTRAPONTO

Ricardo Rego Monteiro e Ludmilla Totinick

O Banco Central do Brasil sur- preendeu parcela significativa do mercado, ao anunciar ontem a queda de 1 ponto percentual da taxa básica de juro, a Selic, para 12,75% ao ano. Foi o maior corte da taxa desde dezembro de 2003. Por cinco votos a três, o Comitê de Política Monetária do BC optou pela mais ousada das estimativas dos especialistas ouvidos pelo JB. Com o corte, a autoridade monetária se incorporou definitivamente ao esforço do governo para reduzir o impacto da crise financeira mundial sobre a economia do país.

A nota divulgada no início da noite de ontem, logo após o anúncio da decisão, deixa clara a disposição dos membros do comitê de prosseguir no movimento de redução da taxa, nas próximas reuniões. "Avaliando as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, neste momento, reduzir a taxa Selic para 12,75% a.a., sem viés, por cinco votos a favor e três votos pela redução da taxa Selic em 0,75 p.b.", informa a autoridade monetária, que prossegue: "Com isso, o Comitê inicia um processo de flexibilização da política monetária realizando de imediato parte relevante do movimento da taxa básica de juros, sem prejuízo para o cumprimento da meta para a inflação."

Senha com a deflação

Ontem, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou a segunda prévia de janeiro do IGP-M, indicador de referência para contratos de aluguel e tarifas de energia elétrica. O índice detectou movimento de deflação ­ queda generalizada de preços ­ pela segunda semana consecutiva. O fenômeno, de acordo com especialistas, contribuiu para balizar a decisão do Copom, ao afastar definitivamente a ameaça da inflação do horizonte do BC. O indicador foi impulsionado principalmente pelos preços dos produtos industriais, mensurados pelo Índice de Preços por Atacado (IPA), que apresentou deflação de 1,09% no período.

No mês passado, o IPA já detectava deflação menor, de 0,15%. Além do IPA, o IGP-M é composto pelo Índice de Preços do Consumidor (IPC, que mede os preços no varejo) e pelo Índice Nacional da Construção Civil (INCC), que mede os custos da construção civil. O primeiro teve variação de 0,59% no período, ante aumento de 0,54% no mês anterior. Já o INCC encerrou em alta de 0,15%, ante a variação de 0,25% no mesmo período de dezembro. Para as entidades empresariais, o corte da Selic em um ponto percentual foi bem recebida. O mesmo, no entanto, não ocorreu com as centrais sindicais. Tanto a Força Sindical quanto a Central Única dos Trabalhadores (CUT) consideraram a redução tímida e insuficiente para promover a retomada da atividade econômica do país.

Queda acentuada

Apesar da insatisfação das centrais sindicais ­ que promoveram manifestação no dia de ontem, em São Paulo, para exigir a queda das taxas de juros tanto pelo BC quanto pelos bancos ­, especialistas ouvidos pelo JB consideraram a queda surpre- endente. O corte de 1 ponto percentual representa uma guinada, segundo esses mesmos especialistas, no conservadorismo gradual da autoridade monetária dos últimos cinco anos. Em dezembro de 2003, na última redução mais expressiva, a autoridade monetária baixou a Selic de 17,5% para 16,5%. Na ocasião, desde setembro de 2007, a taxa não era reduzida no país. Embora represente importante sinalização dos esforços do governo para reduzir o impacto da crise financeira mundial sobre o país, especialistas do setor advertem que o consumidor final não deverá ser beneficiado, a curto prazo, com a medida.

De acordo com a Associação de Executivos de Finanças (Anefac), o correntistas deverão ser beneficiados com diminuição da taxa média mensal dos juros praticados pelo mercado em 0,08 ponto percentual. Simulações da Anefac indicam que o consumidor que financiar a compra de uma geladeira de R$ 1.500 no crediário deve, após 12 prestações com a taxa média atual de 6,30% ao mês, ter pago R$ 2.182,44. Com a nova taxa média, de 6,22%, o consumidor pagará menos R$ 9,48.