Título: Mulheres ainda lutam por igualdade
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/03/2005, Brasília, p. D5

À véspera do 8 de Março, elas continuam sendo discriminadas no mundo do trabalho e também no campo das idéias

O mundo se prepara para comemorar, pelo 95º ano consecutivo, o Dia Internacional da Mulher - 8 de março. A data foi instituída em 1910, em uma conferência na Dinamarca, para marcar a luta das mulheres por condições semelhantes às do homem. A versão mais conhecida sobre a origem desse marco foi a de que, no dia 8 de março de 1857, 129 mulheres morreram queimadas presas numa fábrica têxtil em Nova York quando lutavam pela redução da jornada de 16 horas de trabalho para 10 horas diárias. O fato alarmou a sociedade da época e marcou, anos depois, a luta oficial por justiça entre os gêneros. Em 2005, completou-se dez anos da 5ª Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Beijing (China). Os países signatários do documento final desse encontro, entre eles o Brasil, assumiram o compromisso de ampliar e fortalecer sistemas de análise da situação das mulheres; adotar políticas públicas que levem em consideração o contexto dos dois gêneros; atualizar e propostas de novas legislações de combate à discriminação da mulher em todos os âmbitos; e promover o acesso a cargos públicos e de decisão e a mandatos efetivos, além de oportunidades no mundo do trabalho. É impossível negar que houve avanços. Mas, ao lado deles, as estatísticas teimam em mostrar que é longo o caminho a percorrer até tão almejada eqüidade entre homem e mulher.

No que diz respeito ao mundo do trabalho, os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes a 2003, mostram que, no Brasil, as mulheres empregadas recebem cerca de 40% menos que os homens. Com uma agravante, o salário das mulheres é menor mesmo em iguais condições de formação e qualificação (veja quadro).

As causas dessa diferença não são novas. Vêm se consolidando ao longo dos dois últimos séculos, desde a Revolução Industrial, com a ampliação do mercado de trabalho. Naquela época, as mulheres já trabalhavam nas fábricas, mas como o homem tinha o claro papel de provedor familiar, os salários maiores eram pagos a eles. Havia também divisão de quais eram as atividades femininas e masculinas. À mulher, cabiam trabalhos relacionados ao cuidado, à paciência. Ao homem, posições estratégicas.

Até os anos 80, o mundo conviveu com essa separação bastante definida. A partir da última década do século 20, a realidade mudou. Mas apenas em parte.

- O que ainda povoa o imaginário coletivo é que o trabalho do homem vale mais - avalia Lia Zanotta, professora do Departamento de Antropologia da UnB.

Segundo ela, vários critérios são construídos socialmente, mesmo que, de forma inconsciente, para qualificar algumas atitudes como femininas e outras como masculinas.

De acordo com os dados do IBGE, o trabalho doméstico, por exemplo, é o segundo maior tipo de ocupação entre as mulheres - corresponde a 18,6%. Já, entre os homens, corresponde a apenas 0,9%. Em contrapartida, entre as mulheres ocupadas, as empregadoras são 2,7%. Enquanto, entre os homens, são 5,5%.

A realidade sexista das estatísticas tem seu espelho no campo sociocultural. Seja no cinema, na filosofia ou na educação, o universo feminino está relegado a segundo, terceiro ou quarto planos.

- As mulheres sempre aparecem em segunda ordem. Elas trazem idéias, mas nunca são consideradas filósofas - exemplifica a professora do Departamento de Filosofia da UnB Ana Miriam Wuensch, que pesquisa as contribuições femininas à filosofia.

Ismália Afonso, UnB Agência