Título: O PDT é um partido independente
Autor: Correia, Karla
Fonte: Jornal do Brasil, 23/01/2009, País, p. A10

DEPUTADO FEDERAL, PRESIDENTE NACIONAL DO PDT

A pós acirrado debate interno, o PDT decidiu, por maioria, no ano de 2007, no início da atual legislatura, integrar o chamado "Bloco de Esquerda" da Câmara dos Deputados. Estive entre os defensores da formação do Bloco e não me arrependo. Considero que foi uma experiência válida e construtiva. PDT, PSB, PCdoB, PMN e PRB somam quase 80 deputados, o que nos tornou uma força expressiva no Parlamento.

Por que, então, decidimos nos desligar do Bloco em decisão praticamente unânime (somente um deputado votou contra)? Posso garantir que nosso desligamento foi fruto de um amadurecido debate interno e de uma decisão democrática, tomada em reunião conjunta de bancada com a direção do partido, na qual prevaleceu a vontade unânime dos parlamentares de resgatar o protagonismo do PDT em plenário, prejudicado pela existência do Bloco. É que o Regimento Interno da Câmara garante o uso da palavra apenas ao líder do Bloco.

O líder de Bancada que pertence a Bloco Parlamentar sequer assento na reunião de Líderes tem! Por outro lado, houve muitos desencontros nas recentes eleições municipais. Via-de-regra não conseguimos unidade entre os partidos do bloco na maioria das capitais e cidades importantes do país. Pesou, ainda, o desejo da maioria dos membros da bancada de apoiar a candidatura do peemedebista Michel Temer para presidente da Câmara dos Deputados. Ora, como o Bloco tem candidato, se permanecêssemos nele teríamos a obrigação ética de votar em Aldo Rebelo. A propósito da candidatura de Aldo, convém esclarecer que não o lancei candidato a presidente da Câmara, embora tenha por ele grande consideração e apreço.

O que defendi há meses atrás, quando iniciava-se o debate sobre candidaturas, é que o bloco deveria apresentar uma nome para a disputa. Além do Aldo (PCdoB), sempre citei também os nomes de Miro Teixeira (PDT) e Ciro Gomes (PSB). O fato é que Aldo só assumiu a candidatura no final do ano, quando inclusive eu sequer estava no Brasil, uma vez que chefiava delegação partidária em visita oficial à China. Quando a candidatura de Aldo Rebelo foi lançada, a de Michel Temer já estava consolidada e com uma ampla e representativa base de apoio.

Temer vinha se reunindo conosco há meses, tanto com a bancada como com a direção partidária, de modo que não foi difícil tomar a decisão ­ unânime ­ de apoiá-lo. Importante sublinhar, porém, que o desligamento do PDT do Bloco de Esquerda não significa rompimento político. Temos afinidades históricas com o PSB e o PCdoB e pretendemos manter nossa relação em excelente nível. Poderemos, inclusive, estar juntos num projeto comum nas eleições presidenciais do ano que vem. O que não queremos é alinhamento automático.

O PDT é um partido independente e poderá inclusive optar por candidatura própria para Presidente em 2010. Reafirmo, outrossim, que as decisões que tomamos são definitivas e que, se depender do PDT, as duas Casas do Congresso Nacional não serão presididas pelo mesmo partido, já que apoiamos o petista Tião Viana para Presidente do Senado. Por fim, não poderia deixar de rechaçar com veemência e indignação afirmações de que nossas decisões teriam acatado "ordem do Planalto". Nosso presidente licenciado Carlos Lupi, Ministro do Trabalho, tem todo o direito de participar ativamente dos nossos debates internos e expressar suas posições como expressiva liderança partidária que é. Jamais nos submeteríamos, entretanto ­ nem ele, nem a direção do partido, nem os deputados ­ a interferências externas.

Aliás, diga-se de passagem e a bem da verdade e da justiça, estou há mais de 10 meses no exercício da presidência do partido e jamais recebi qualquer pressão ­ muito menos ordem ­ do Palácio do Planalto sobre assuntos partidários. Fiquem certos de que o PDT continuará debatendo e tomando suas decisões de acordo com os seus princípios e o pensamento dos seus quadros políticos de maneira autônoma e democrática.