Título: Bernardino e Adriana depõem
Autor: Leandro Bisa
Fonte: Jornal do Brasil, 26/02/2005, Brasília, p. D3

Acusados de matarem a jovem Maria Cláudia se xingam e caem em contradição Bernardino do Espirito Santo, 30 anos, e Adriana de Jesus Santos, 21 anos, voltaram a ficar frente a frente, ontem, no Tribunal do Júri de Brasília. A acareação judicial foi marcada por discussões e xingamentos entre os acusados de assassinar Maria Claudia Del'Isola, 19 anos, em dezembro último. Para o promotor Maurício Miranda, Adriana, que afirma ser inocente, se contradisse diante de uma de suas perguntas. O deslize, na avaliação de Miranda, foi o primeiro passo para desmascarar a ex-empregada. Durante a audiência, de 2h20, Adriana insistiu em dizer que não viu, não sabia de nada e não teve qualquer participação na morte da estudante de pedagogia e psicologia. Ela afirmou que Maria Cláudia, após tomar café, fechou a porta da cozinha e saiu dizendo que iria para a aula, na Universidade de Brasília (UnB), de carona.

Adriana disse que estava dentro da cozinha, lavando louças e fazendo, por isso não percebeu o que Bernadino fez com Maria Cláudia - a universitária foi espancada, estuprada e enterrada no quarto de despesa de sua casa, embaixo da escada que liga o térreo ao segundo andar. Adriana sustentou essa versão até o final do depoimento, quando o promotor Maurício Miranda lançou uma pergunta em voz alta e tom seco.

- Você (Adriana) afirma que Maria Cláudia disse que iria para faculdade de carona. Ela não foi, pois foi assassinada. A pessoa que iria dar a carona apareceu? E porque não apareceu? - disse o promotor.

Adriana engasgou, gaguejou, ficou em silêncio e afirmou não ter resposta para a pergunta. Maurício Miranda concluiu que o silêncio da ré foi a grande contradição em seu depoimento.

- Foi o primeiro passo para desmascarar a mentira. Até mesmo porque ela afirmou, por diversas vezes, durante o inquérito policial, ser culpada. Mudou o depoimento na Justiça - disse Miranda.

Cinco minutos após o corpo de Maria Cláudia ser encontrado, Adriana confessou sua participação no crime. Na delegacia, no dia seguinte, ao prestar depoimento, ela voltou a confessar sua culpa. Horas depois, repetiu as declarações aos jornalistas. Onze dias depois, junto com Bernadino ela assumiu sua participação no crime, mais uma vez, diante de policiais e dezenas de jornalistas.

Miranda afirmou que a situação de Bernadino está consolidada. Além de seu depoimento assumindo a culpa, há várias provas que incriminam o caseiro e sequer são questionadas por ele.

À parte o testemunho dos acusados, a audiência foi marcada por xingamentos e trocas de acusações entre ambos. A platéia presente também se manifestou, protestando ou rindo, ironicamente, das declarações de Adriana. Como no momento em que ela disse ser uma pessoa honesta, direita e sem maldade na cabeça.

Além da acareação, estava marcado para ontem o depoimento das testemunhas de defesa de Adriana. Seriam dois peritos do Instituto de Criminalística que foram dispensados pela advogada de defesa, e a ex-namorada de Bernardino, Maria Aparecida da Cunha, que não foi encontrada. A Justiça expediu um ofício de requisição, solicitando a polícia que a encontre. O depoimento de Maria Aparecida ainda não tem data marcada.