Título: Amorim cobra de Obama
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/12/2008, Economia, p. A19

Ministro quer compromisso com negociações comerciais

O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, deveria dar um sinal para ajudar a impulsionar as negociações comerciais da Rodada de Doha. A afirmação foi feita ontem pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, depois do encontro com o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy. Na ocasião, justificou a cobrança ao lembrar que, como fonte da crise que reduziu o crédito, os EUA têm que mostrar flexibilidade nas negociações da Organização Mundial de Comércio (OMC).

Mas isso só vai acontecer com um sinal da nova administração, segundo Amorim.

¿ É muito fácil dizer que é um governo por vez ¿ criticou. ¿ Neste momento líderes têm que mostrar que são líderes. Não podem se esconder atrás de formalidades.

Lamy está em intensas negociações com ministros dos Estados Unidos e de outras potências comerciais para avaliar se avanços suficientes podem ser feitos em relação a várias questões da Rodada de Doha, para convocar ministros a Genebra ¿ sede da OMC ¿ em busca de uma solução. Amorim explicou que, até onde pode julgar, Lamy ainda não se decidiu sobre a reunião.

Exigências americanas

O porta-voz da OMC, Keith Rockwell, disse que Lamy vai decidir hoje se convoca o encontro para a próxima semana, após mais uma rodada de discussões com importantes participantes da rodada.

Líderes do G-20 pediram no mês passado que um esboço do acordo de Doha seja feito até o fim do ano para ajudar a conter a crise financeira.

O Brasil e outros países em desenvolvimento têm atribuído às demandas excessivas feitas pelos EUA a impossibilidade de retomar a negociação em nível ministerial. Entre as quais, a que mais incomoda o Itamaraty é que Brasil, Índia e China se comprometam em zerar ou reduzir drasticamente as tarifas de setores-chave da indústria, como automotivo, eletrônico e químico.

Os chamados acordos setoriais já haviam sido aceitos na fracassada reunião ministerial de julho, mas em caráter voluntário. Agora, pressionada pela recessão e buscando oferecer mais benefícios à indústria americana, a Casa Branca exige que pelo menos alguns desses acordos seja obrigatório.

Há poucos dias, lideranças do partido de Obama nas duas casas do Congresso americano mandaram uma carta ao presidente Bush desaconselhando a retomada da negociação.