O Estado de São Paulo, n. 46441, 11/12/2020. Metrópole, p. A20
Butantã inicia a produção local da vacina Coronavac
Fabiana Cambricoli
João Ker
11/12/2020
Doria afirmou que 11 Estados já negociam a compra do imunizante; 276 cidades formalizaram interesse e outras 912 avaliam situação
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou ontem o início da produção final da vacina Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Butantã. Doria afirmou que 11 Estados já negociam a compra do imunizante diretamente com o instituto. O movimento dos gestores estaduais é uma resposta à demora do Ministério da Saúde em divulgar um plano de vacinação e incorporar maior variedade de vacinas na estratégia federal.
A produção local da Coronavac teve início na noite de anteontem, na fábrica do Butantã em São Paulo. Neste primeiro momento, somente a etapa final da fabricação será feita no Brasil, com a importação da matéria-prima (ingrediente ativo) da China e formulação, envase e rotulagem feita nacionalmente. Nessa fase, também são realizados testes de qualidade.
Somente depois de concluído o processo de transferência de tecnologia da Sinovac para o Butantã, previsto para o fim de 2021, é que a produção poderá ser 100% nacional. Foram contratados 120 novos técnicos (além dos 245 já existentes) para trabalhar na produção do imunizante, cuja fábrica passou a funcionar "24 horas por dia e 7 dias por semana", aumentando sua capacidade de produção diária para 1 milhão de doses.
Por enquanto, só foram importadas da China 120 mil doses prontas da Coronavac e matéria-prima para a fabricação local de 1 milhão de unidades do produto. Novas remessas devem chegar entre dezembro e janeiro. Serão 6 milhões de doses prontas e insumos para a produção de outras 40 milhões de doses.
Os Estados que negociam a compra da Coronavac são Acre, Pará, Maranhão, Roraima, Piauí, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Sul. Ao todo, 276 municípios também já formalizaram o interesse na aquisição do imunizante e, de acordo com Dimas Covas, diretor do Butantã, outros 912 também já manifestaram a intenção, que "deve ser formalizada nos próximos dias".
Doria anunciou, na segunda-feira, que ofereceria 4 milhões de doses para outros Estados vacinarem seus profissionais de saúde.
De acordo com Covas, se o Ministério da Saúde formalizar o interesse na vacina, as doses, então, seriam ofertadas todas para o Programa Nacional de Imunizações (PNI) e de lá distribuídas pelo governo federal para Estados e municípios, como costuma acontecer em todas as campanhas de vacinação. "Não tem sentido qualquer outra alternativa", afirmou Covas. "Basta me ligar e eu prontamente colocarei as vacinas à disposição do Ministério da Saúde", disse o diretor do Butantã.
"Por que iniciar a vacinação em março, como foi anunciado pelo ministério, se podemos iniciar em janeiro, de forma segura e eficiente?", indagou Doria, fazendo referência ao calendário de imunização apresentado na semana anterior.
O governador afirmou que ainda não recebeu nenhuma comunicação formal do ministério sobre um eventual interesse do governo federal em comprar doses da vacina do Butantã, embora o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tenha dito anteontem que ela pode ser incorporada, caso haja o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Desejamos uma manifestação clara, escrita, de que a Coronavac fará parte do Programa Nacional de Imunização", afirmou Doria.
Registro. Covas disse que o Butantã tentará, junto à Anvisa, os dois caminhos possíveis para registro da Coronavac. "Brevemente teremos os resultados da fase 3 (eficácia). Submeteremos (os dados) tanto pelo rito normal quanto pelo uso emergencial", disse.
Ele não descartou a possibilidade de pedir liberação excepcional de uso para a Anvisa a partir da aprovação do imunizante em outros países com base na lei federal 13.979/2020, que autoriza a importação de produtos e insumos sem registro no País, contanto que eles tenham licença em Estados Unidos, Europa, Japão ou China.
Nenhum país concedeu registro ainda à Coronavac porque ela ainda não teve os resultados de eficácia divulgados. A expectativa, porém, é de que, assim que os dados da fase 3 dos testes sejam apresentados, o pedido de registro seja feito também na China. "Paralelamente (à submissão na Anvisa), os resultados serão submetidos à agência chinesa. É possível que lá saia muito rapidamente, ainda neste ano. Isso acontecendo, a Anvisa tem de se manifestar em 72 horas. Esse é o caminho alternativo. O ideal seria pelo rito normal ou uso emergencial", explicou Covas.
O diretor do Butantã disse ter oferecido 100 milhões de doses da Coronavac ao ministério para serem entregues até maio, além de 40 milhões a outros países. Ele afirmou já ter recebido manifestações de interesse de nações da América Latina, como Argentina, Peru e Uruguai.
Na segunda-feira, Doria já havia afirmado que o Estado de São Paulo pretende começar a imunização no dia 25 de janeiro, com a vacinação de profissionais de saúde, idosos, indígenas e quilombolas.
Para adolescentes
A empresa de biotecnologia Moderna iniciou ontem testes de fases 2 e 3 da vacina em adolescentes de 12 a 18 anos. Os estudos vão determinar a segurança do imunizante nessa faixa etária.
PONTOS-CHAVE
Imunização prevista para o fim de janeiro
• Produção local
Neste primeiro momento, somente a etapa final da fabricação será feita no Brasil, com a importação da matéria-prima (ingrediente ativo) da China.
• O papel do Butantã
Cabe ao instituto paulista formulação, envase e rotulagem do produto da Sinovac. Nessa fase, também são realizados testes de qualidade.
• O futuro
O governo paulista mantém a previsão de apresentar os resultados de eficácia do imunizante até o dia 15 e iniciar a vacinação em 25 de janeiro.