Título: MP pede correição da Justiça
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 13/02/2005, País, p. A3

O Ministério Público Federal em São Paulo apresentou ao Tribunal Regional Federal um pedido de ''correição parcial'' sobre decisão da Justiça Federal com relação à Operação Chacal. A iniciativa é uma forma de avaliar a postura do Judiciário Federal em face do caso Kroll.

Segundo uma fonte que acompanhou o pedido de correição, o juiz titular da 5ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, Renato Pacheco Chaves de Oliveira, não permitiu que a Polícia Federal e o Ministério Público analisem o banco de dados do disco rígido do Banco Opportunity, apreendido com autorização judicial do próprio juiz Renato Pacheco, ano passado, durante a Operação Chacal.

Apesar de muitos indícios do envolvimento do banqueiro Daniel Dantas - dono do Grupo Opportunity - com as investigações ilegais da Kroll, a PF fica de mãos amarradas para concluir o caso, se não puder analisar o disco rígido do banco. Lá podem estar algumas das evidências que faltam para comprovar eventuais operações suspeitas.

O juiz autorizou a busca e apreensão na sede do Opportunity no ano passado. A busca, segundo a autorização, teria de ser feita no 28º andar do prédio do banco no Rio. Os policiais que foram cumprir a busca, no entanto, conversaram com a secretária de Dantas e esta informou que todos os dados importantes do computador do banqueiro tinham sido transferidos para o disco rígido da instituição financeira, no terceiro andar do mesmo prédio.

Os mesmos policiais que foram ao 28º andar informaram ao delegado responsável pela operação que o conteúdo da busca estava no terceiro andar. O delegado, então, entrou em contato com a 5ª Vara e encontrou no plantão outro juiz, que autorizou a busca e apreensão no terceiro andar.

A PF fez o espelhamento dos dados do disco rígido, mas o material encontra-se lacrado no Instituto de Criminalística, em Brasília. O espelhamento, que é uma cópia, foi feito na presença dos advogados do Opportunity. O disco rígido, após feita a cópia, foi devolvido ao banqueiro Daniel Dantas.

A preocupação entre os técnicos que acompanham a perícia é de que o disco rígido seja devolvido sem a análise dos dados. Isto prejudicaria a investigação, pois o disco seria o ''cérebro'' de todas as grandes operações financeiros de Dantas. Além disso, segundo fontes do governo, todos os dados estão protegidos pelo sigilo bancário. Eventuais irregularidades constatadas no disco rígido do Opportunity seriam informadas à Justiça Federal.