Título: Corte de juros à metade cria polêmica
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 13/02/2005, Economia, p. A19

Nova reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deve movimentar o mercado na semana que começa. A aposta da maioria dos analistas se concentra em uma elevação de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, que está hoje em 18,25% ao ano. Mas a eficácia da medida está longe de ser consenso. Na semana passada, o economista Reinaldo Gonçalves lançou a sugestão da redução da taxa básica à metade. Segundo ele, a pressão inflacionária poderia ser compensada com o aumento do depósito compulsório, recursos que os bancos são obrigados a deixar imobilizados no Banco Central. Atualmente, os bancos têm que repassar 45% do dinheiro dos correntistas. Com isso, o BC regula o nível de consumo da população. - Com a redução dos juros, a dívida cairia e, com isso, sobraria dinheiro para o Estado sair na frente nos investimentos. Só assim, a iniciativa privada passa a investir - avalia Gonçalves.

Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, a solução do compulsório já foi utilizada no passado por quase todos os países, como método de controle de preços.

- Com o passar do tempo, compulsório virou um palavrão. Isso porque os capitalistas financeiros (ligados a instituições bancárias e de crédito) ganharam projeção.

Segundo ele, com as expectativas de inflação em torno de 6% - de acordo com a pesquisa Focus do BC, com 100 instituições que operam no mercado, a mediana das apostas ficou em 5,75% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) -, a autoridade monetária poderia optar por ser mais leniente com os juros.

- Não existe uma lei natural que obriga que sigamos essa taxa de juros - brinca Belluzzo, que acrescenta outras mudanças para a política monetária: controle de fluxos de capitais (tanto na entrada quanto na saída), limite para as operações em dólar (a fim de evitar a especulação), e uma gestão fiscal eficiente. Além disso, continua, atenção redobrada à formação de reservas internacionais.

- Com isso, é possível aliviar os juros - ensina. - E usar o fôlego para direcionar o crédito para a produção, usando os líderes do sistema financeiro, papel a ser desempenhado pelos bancos estatais.

O ex-diretor de política monetária do Banco Central e diretor do Banco Itaú, Sérgio Werlang, discorda.

- O compulsório no Brasil já é um dos maiores do mundo. Nos Estados Unidos, é zero, e na Europa, 5%. A medida só aumentaria o spread e privilegiaria o governo em detrimento da pessoa física - diz, lembrando que a Selic remunera os títulos do governo.