O Estado de São Paulo, n. 46446, 16/12/2020. Metrópole, p. A20

 

Senado reverte as mudanças no Fundeb

Daniel Weterman

16/12/2020

 

 

Foi retirado benefício a escolas religiosas, mas texto ainda voltará para a Câmara

O Senado reverteu mudanças feitas de última hora na Câmara e retirou a possibilidade de transferências de recursos do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) para escolas religiosas, filantrópicas e comunitárias. O projeto de regulamentação poderia transferir até R$ 12,8 bilhões por ano da rede pública para essas instituições, conforme cálculo do Todos pela Educação. A proposta agora volta à Câmara. Na prática, os deputados ainda poderão resgatar a medida.

A entrega de recursos públicos para escolas religiosas nos ensinos fundamental e médio, nos termos aprovados pela Câmara, foi criticada por especialistas e considerada inconstitucional. A Consultoria Legislativa do Senado afirmou que o dispositivo poderia trazer mais prejuízos que benefícios à educação do País. Um dos argumentos é de que recursos públicos podem ser destinados a entidades filantrópicas, mas desde que não haja vagas públicas.

A votação no Senado passou por uma reviravolta nas negociações. O relator do projeto, senador Izalci Lucas (PSDB-DF), chegou a apresentar um parecer no início da sessão mantendo a previsão que atendia às entidades religiosas, mas exigindo gratuidade para estudantes cujas matrículas sejam financiadas com recursos públicos. Mas o parecer não satisfez os senadores, pressionados por profissionais da educação. Os deputados federais ainda poderão recuperar o dispositivo polêmico. Se não houver uma votação ainda nesta semana, a regulamentação pode ficar nas mãos do Executivo. "O poder público continua com a possibilidade de fazer convênios com as escolas comunitárias e confessionais, só que não com recurso do Fundeb", afirmou o relator.

Aumento. A partir de 2021, a União terá de aumentar a complementação de recursos do Fundeb dos atuais 10% para 23%, em seis anos. A regulamentação garante a operação dos critérios de distribuição. Com isso, 1.471 cidades passarão a receber a fatia da União. O número se refere a cidades mais carentes em Estados ricos e que não tinham recurso extra da União.

O Fundeb é o principal mecanismo de financiamento do setor e movimentou recursos de cerca de R$ 162 bilhões em 2020. O projeto aprovado na Câmara, liberava até 10% do dinheiro para instituições religiosas ou filantrópicas, sem fins lucrativos e conveniadas com a rede pública, no ensino fundamental e médio.

Outro dispositivo retirado pelo Senado ampliava o rol de profissionais que poderiam ter salários pagos com recursos do fundo. Pelo texto da Câmara, entrariam no cálculo funcionários de entidades filantrópicas e religiosas, além de terceirizados da rede pública. O relatório aprovado pelos senadores limita a definição a professores, psicólogos e assistentes sociais que trabalham diretamente nas escolas. Além disso, o Senado retirou a inclusão das matrículas no ensino médio profissionalizante vinculadas ao Sistema S (Senai, Sesi e Senac) nos repasses do Fundeb.

Senadores chegaram a sugerir a apresentação de projeto do zero para envio à Câmara. Assim, o Senado daria a palavra final sobre o texto se os deputados insistissem na destinação dos recursos às escolas religiosas. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP, porém, rejeitou a ideia, dizendo que a Câmara poderia fazer a mesma coisa e provocar um novo "vai e vem" de versões. "Vai criar um imbróglio institucional entre Câmara e Senado", afirmou.

Sem sentido

"Foi longe demais. Entrar dentro do Sistema S com dinheiro do Fundeb não faz nenhum sentido."

Rodrigo Maia

PRESIDENTE DA CÂMARA, PREVENDO NOVA VOTAÇÃO NESTA QUINTA