Título: Bloquinho ressurge das cinzas de olho em 2010
Autor: Correia, Karla
Fonte: Jornal do Brasil, 22/12/2008, País, p. A4

Grupo aproveita disputa na Câmara para se fortalecer

Karla Correia

BRASÍLIA

Relegado ao segundo plano na base de sustentação do governo no Congresso, o chamado bloquinho ¿ que reúne PSB, PDT e PCdoB ¿ viu na complicação do quadro sucessório no comando da Câmara e do Senado sua chance de ganhar espaço no Congresso e na articulação com o Executivo em 2009, ano que fatalmente terá sua pauta política marcada tanto pela crise econômica quanto pela precoce movimentação em torno da corrida presidencial. O lançamento de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) na disputa pela presidência da Câmara faz parte da estratégia para elevar o cacife político do grupo, em um movimento que pode levar à candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) ao Palácio do Planalto, em 2010.

Uma estatística usada pelo grupo para demonstrar a dificuldade na relação com o Planalto é o número de medidas provisórias relatadas pelos três partidos durante a gestão do atual presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) ¿ eleito em um acordo entre PT e PMDB na partilha do comando das duas Casas. O governo enviou 120 MPs no período. Juntas, as duas siglas concentraram 46% das relatorias de MPs.

¿ Vale lembrar que PT e PMDB detêm somente 33% dos assentos da Câmara ¿ reclama o líder do PSB na Casa, Márcio França (SP).

¿ As relatorias de MPs servem de amostra do quanto os partidos menores, que ficaram de fora da partilha, encontram dificuldades no diálogo com o governo. O acordo tem sufocado o restante da base.

Para o deputado, a união de todos os partidos da base em torno da candidatura de Michel Temer (PMDB-SP) à presidência da Câmara ¿ seqüência lógica do acordo entre PMDB e PT ¿ apenas manteria a "asfixia" das legendas governistas menores. Seguindo esse raciocínio, as candidaturas de Aldo Rebelo e de Ciro Nogueira (PP-PI) aumentam a margem de manobra dos partidos pequenos da base.

Comissões

O que, para o bloquinho, significa espaço na Mesa Diretora e ao menos a presidência de mais uma comissão da Câmara. O grupo hoje comanda as comissões de Relações Exteriores, Amazônia e Integração Nacional e Direitos Humanos.

Um dos principais pleitos do bloco é a divisão da comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, hoje presidida pelo petista Walter Pinheiro (BA), em duas. Uma seria a todo-poderosa comissão de Comunicação e Informática, detentora do poder de vida e morte nas concessões de emissoras de rádio e televisão, importante moeda de troca política. Para esse quinhão, o PDT sonha indicar o deputado Miro Teixeira (RJ), ex-ministro das Comunicações. Já o PSB almeja o comando da fatia de Ciência e Tecnologia, casamento perfeito para a única pasta do partido no governo Lula, o ministério de Ciência e Tecnologia.