Título: Demanda aquecida pela casa própria
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 13/02/2005, Economia, p. A20

Volume de recursos destinados ao crédito imobiliário é o maior em dez anos, puxado por recuperação da economia BRASÍLIA - O sonho de compra da casa própria poderá se tornar real para milhares de pessoas em 2005. O volume de recursos destinados ao crédito imobiliário neste ano é o maior dos últimos 10 anos. A melhora do nível de emprego e a expansão da economia fortaleceram a demanda e motivaram o setor financeiro a explorar de forma mais intensa a carteira de imóveis. Somente a Caixa Econômica Federal destinará R$ 10,5 bilhões, 85% acima dos R$ 5,7 bilhões gastos em 2004. No setor privado, esse tipo de negócio terá maior visibilidade e contará com o mínimo de R$ 4 bilhões, R$ 1 bilhão a mais na comparação com os recursos liberados em 2004.

A maior oferta de vagas de trabalho, a recuperação da renda familiar e a diminuição do medo de perda do emprego injetaram confiança no consumidor, que se mostra mais disposto a assumir compromissos de longo prazo. Essa reação apresenta-se como uma oportunidade real em um país cujo déficit habitacional é de 7,2 milhões de unidades.

- Projetamos uma expansão de 3,5% para o PIB de 2005 e note-se que isso ocorrerá sobre um crescimento de 5% do PIB de 2004, uma comprovação de que há um efetivo crescimento da atividade econômica e maior oferta de emprego. As pessoas percebem que a empresa na qual trabalham continuará funcionando, o sentimento de que não há risco de perda da renda se fortalece e isso influencia a decisão por assumir o financiamento de um imóvel - comenta o vice-presidente do Bradesco e presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário (Abecip), Décio Tenerello.

Esse contexto favorável somente é atenuado pelos recentes aumentos da taxa básica de juros, a Selic, que está em 18,25% ao ano e para a qual espera-se uma nova elevação nesta semana. Como comprar um imóvel financiado requer planejamento de longo prazo, a sinalização do governo de encarecimento do crédito mantém o consumidor cauteloso, mas não chega a abater a decisão de tornar real o sonho da casa própria.

É essa a aposta da Abecip. A entidade espera por um arrocho de mais 0,25% na taxa Selic nesta semana. A partir disso, projeta-se que a taxa ficará estacionada em 18,5% com perspectiva da retomada do rebaixamento entre agosto e setembro e fechamento entre 16% e 16,5% ao fim deste ano.

Ainda que no curto prazo a taxa básica da economia mantenha-se em níveis elevados, Décio Tenerello observou que parte da economia está atrelada a taxas inferiores à Selic, a exemplo da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). Referência do BNDES nos financiamentos de longo prazo, a TJLP está fixada em 9,75% ao ano. Em termos gerais, os financiamentos habitacionais são corrigidos pela Taxa Referencial (TR) mais 12% ao ano nos contratos negociados com recursos da caderneta de poupança.

No ano passado, a Caixa Econômica Federal destinou R$ 5,7 bilhões ao financiamento de 367.370 unidades. Desse montante, R$ 2,4 bilhões foram para operações na faixa de renda de cinco salários mínimos (256.016 unidades) e R$ 3,3 bilhões na faixa de renda acima de cinco salários mínimos (111.355 unidades). Com R$ 10,5 bilhões para movimentar em 2005, a Caixa Econômica Federal projetou que 70% do total das unidades a serem financiadas em 2005 serão do segmento de baixa renda (até cinco salários mínimos).