Título: Sarkozy quer Brasil como membro do Conselho de Segurança
Autor: Americano, Ana Cecília
Fonte: Jornal do Brasil, 23/12/2008, Tema do Dia, p. A2

Em sua primeira visita como chefe de Estado francês ao Brasil, Nicolas Sarkozy foi eloqüente em seus elogios ao Brasil a ponto de defender, sem pestanejar, a tese de que o país tenha um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

¿ Sou sincero quando digo que precisamos do presidente Lula como liderança ¿ declarou o presidente da França e do Conselho Europeu durante o 2º Encontro Empresarial Brasil-União Européia, para uma platéia de empresários dos dois países. ¿ Sou sincero quando digo que precisamos dele como membro permanente do Conselho de Segurança para enfrentar os desafios do planeta.

As declarações, que lhe renderam palmas entre empresários, ministros e analistas das áreas de investimento e relações internacionais, são parte dos derretidos elogios ao Brasil que o presidente fazia questão de tecer, quando tinha oportunidade.

Aparentemente à vontade ¿ ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, trocou comentários ao pé do ouvido ao longo do encontro de ontem, numerosas vezes ¿ Sarkozy quis deixar claro o quanto considera a importância do papel brasileiro na nova arquitetura geopolítica e financeira mundial:

¿ A Europa não veio aqui dar lições ¿ esclareceu. ¿ O Brasil não é uma potência de amanhã; é uma potência de hoje.

A afinidade entre Sarkozy e Lula ficou clara, também, em relação a problemas e soluções para a atual crise financeira. O líder francês retomou o discurso do presidente brasileiro de que "finalmente chegou a hora da política" ¿ numa alusão à necessidade de se rediscutir e redimensionar o papel do Estado frente à economia ¿ para pedir apoio do parceiro latino-americano:

¿ A Europa sozinha não pode transmitir essa mensagem adiante. O presidente da Comissão Européia (José Manuel Durão Barroso) fala bem português, mas é a França que tem fronteiras com ele ¿ brincou ao se referir à Guiana Francesa. ¿ Todos os países da Europa amam o Brasil, mas a França vai demonstrar como ela ama e respeita este país.

Aparentemente mais entusiasmados com as relações entre Brasil e União Européia do que entre Mercosul e bloco europeu, Sarkozy, Lula e Barroso, chefe do órgão executivo da UE, reforçaram que os países devem atuar de forma conjunta para minimizar os efeitos e dar uma resposta à crise atual e criar nova arquitetura da economia mundial.

Tendo em vista a próxima cúpula do G-20 e a Rodada Doha, os líderes sublinharam a importância de rejeitar o protecionismo e de evitar que países se voltem para si mesmos em épocas de incerteza financeira.

Dentro do classificado como "convergência nas posições entre Brasil e União Européia" no conjunto das "questões internacionais" por Sarkozy, a reforma das Nações Unidas ¿ assim como de seu conselho de segurança ¿ têm destaque.

Meio ambiente

Questões de caráter econômico e ambiental como biocombustíveis e emissão de gases estufa também entraram na agenda bilateral.

Lula saudou a UE pela opção de incluir energias mais "renováveis" em seus combustíveis, o que pode dar início à nova etapa de "trabalho conjunto com etanol e biodiesel".

O tema, para Barroso, pode levar o Brasil a se firmar como "líder global para as futuras gerações".

No setor climático, Brasil e UE trabalharão em conjunto para alcançar um acordo até 2009, quando ocorre a reunião pós-Kyoto em Copenhagen ¿ em prol da cooperação internacional na área de mudança do clima, nos marcos da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima e do Protocolo de Kyoto.

Depois de saudar o plano brasileiro contra o desmatamento ¿ em que o Brasil se compromete a reduzir 71% do desmatamento alcançcado entre 1996 e 2005 ate 2017 ¿ Sarkozy se disse à disposição para ajudar o governo brasileiro "no que for preciso" para preservar a Amazônia.

Ainda no setor, os presidentes também saudaram os entendimentos em curso entre o Banco Europeu de Investimentos (BEI) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil (BNDES) para cooperação nas áreas de mudança do clima, energia, além de infra-estrutura.