Título: Tema sensível aos dois governos, imigração continua ponto alto de divergência
Autor: Americano, Ana Cecília
Fonte: Jornal do Brasil, 24/12/2008, Internacional, p. A18

Apesar do ar romântico e de afinidade entre Nicolas Sarkozy e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ¿ que abarca pontos comuns como ampliação do G-8, reforma e inclusão do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas e menos protecionismo na OMC ¿ o delicado tema imigração mostrou-se um ponto de discórdia entre os dirigentes.

Depois de agradecer o governo francês por ir além de um acordo mercadológico ao concordar em transferir tecnologia, Lula defendeu um diálogo permanente de alto nível, para que se chegue a um consenso sobre o tema.

¿ É importante que a gente compreenda que esse assunto tem direções politicas diferenciadas, dependendo do país e do momento ¿ observou. ¿ Mas como se trata do direito de ir e vir das pessoas, e dos direitos humanos, é importante que a gente não perca de vista a necessidade de manter um diálogo de alto nível, para que possamos resolver.

Eleito com promessas de maior rigidez contra a imigração na França ¿ cuja presidência da União Européia vem sendo marcada pelo endurecimento da política do bloco em relação aos imigrantes ¿ o mandatário francês não mostrou perspectivas diferenciadas em relação ao tema:

¿ A Europa continua aberta ¿ avaliou. ¿ Trata-se do primeiro destino dos imigrantes no mundo. Não há continente tão aberto quanto. Mas somos 27 países e aquele que recebeu (um imigrante) receberá para os outros também.

Perguntado sobre o aparente entusiasmo mais nas negociações entre Brasil e União Européia, em comparação com as entre o bloco europeu ¿ na segunda-feira, o ex-ministro da Indústria e Comércio do governo Lula e hoje presidente do Conselho da Sadia, Luiz Fernando Furlan alegou que o bloco seria uma "bola de ferro no pé" do Brasil ¿ Lula negou, dizendo que qualquer relação com isso denota "preconceito na relação do Brasil com os países da América Latina".

¿ O Mercosul é extremamente importante não apenas do ponto de vista comercial, mas político ¿ lembrou. ¿ O nosso país tem fronteira com países pequenos, mais pobres e com menos potencial tecnológico. Temos a obrigação política, econômica, moral e ética de ajudar esses países a se desenvolverem. São países como Brasil, França, EUA, União Européia e Japão que têm maior potencial e que têm de cuidar com mais carinho daqueles que ainda não conseguiram se desenvolver.

Para o presidente, que ressaltou a diversificação das relações comerciais do Brasil ¿ que reduziu as transações com os EUA de 30% para 14% da balança comercial ¿ se o intuito é um mundo de paz, "temos de olhar primeiro para dentro da nossa casa":

¿ E o Mercosul é a nossa casa ¿ concluiu.

Na defesa de uma "grande nação do ponto de vista militar, econômico, tecnológico" e defensora do meio ambiente "se o Minc ajudar", segundo Lula, os dois governos estudam, ainda, criar o quanto antes um centro de pesquisas, financiado pelos governos francês e brasileiro.

¿ Foi enfatizado que é importante que comecemos logo um centro de pesquisas que dê origem a uma universidade, com pesquisadores franceses e brasileiros para o estudo da biodiversidade da Amazônia brasileira e da francesa ¿ contou Carlos Minc, ministro de Meio Ambiente.

O ministro conta que, apesar de o projeto já estar acordado, ainda se debate o local mais apropriado para as instalações. A primeira opção de que fosse construído na fronteira entre os dois países foi descartada para dar lugar à instalação em Manaus. A idéia é que até 7 de setembro de 2009 ¿ data prevista para Sarkozy retornar ao Brasil para as comemorações da Independência e do ano do Brasil na França ¿ as diretrizes mais importantes, como localização e quais cientistas brasileiros e franceses estarão à frente, estejam definidas.