Título: Eleição na Câmara em mar revolto
Autor: Sérgio Pardellas e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 13/02/2005, País, p. A7

Candidatura avulsa de dissidente petista gera ansiedade às vésperas do pleito para a presidência da Casa, marcada para amanhã

A candidatura avulsa do dissidente petista deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) mergulhou a eleição à presidência da Câmara, marcada para amanhã, num mar revolto em que as perspectivas mais sombrias apontam para um irremediável segundo turno e as mais otimistas, depois da entrada em campo dos ministros do governo, num apertado triunfo do candidato oficial, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), na primeira etapa do pleito.

Esta não será a primeira vez que o partido de maior bancada na Câmara se fragmenta na disputa pela presidência da Casa, terceiro cargo mais importante do país na linha sucessória. Virgílio também não tem a primazia de tentar derrotar o candidato oficial. A retrospectiva história é reveladora de dias conturbados às vésperas das eleições na Câmara.

Em 1987, Ulysses Guimarães (PMDB-SP), candidato majoritário, teve como concorrente o também peemedebista Fernando Lyra (PE). Em 1989, foi a vez de Paes de Andrade (PMDB-CE) fazer frente a Paulo Mincarone (PMDB-RS). Nas duas situações, os candidatos avulsos foram derrotados, apesar de controlarem, na ocasião, a primeira-secretaria da Câmara, considerada o cargo municipalista da Casa, robusto em verba e cargos.

Incensados pelo baixo clero, tal como Virgílio Guimarães, outros dois políticos tentaram, em vão, ser guindados ao posto máximo da Câmara. O fato foi relembrado por dois ministros do governo empenhados na eleição de Greenhalgh. Segundo eles, o deputado Wilson Campos (PSDB-PE), ''o bom companheiro'', derrotado por Michel Temer (PMDB-SP) em 1997. E Inocêncio Oliveira (PFL-PE), derrotado por Aécio Neves (PSDB-MG) em 2001.

Na eleição de 1997, Temer elegeu-se presidente da Câmara com o número mínimo de votos, 257, mesmo tendo o apoio do presidente da Casa, Luiz Eduardo Magalhães (PFL-BA), e do presidente Fernando Henrique Cardoso, que, na época, estava com o prestígio em alta. Wilson Campos (PSDB-PE) obteve 119 votos e Prisco Viana (PPB-BA) teve 111.

- Wilson Campos era como Virgílio. Fazia campanha dando presentes e defendendo o corporativismo - recordou um ministro ligado a Lula, pedindo para não ser identificado.

A novidade da eleição de amanhã é a disputa interna no PT, que poderá ensejar uma punição ao candidato avulso depois de encerrado o pleito. O rolo compressor sobre Virgílio será capitaneado pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu. Mas, em 1997, o PT experimentou o gosto amargo da candidatura avulsa. Na ocasião, o deputado Luís Eduardo Magalhães foi o candidato do PFL à presidência da Câmara. A bancada do PT decidiu lançar o deputado José Genoino como candidato ao cargo. Luís Eduardo venceu e, como punição, o PT ficou sem nenhum lugar na Mesa Diretora, com base num parecer encomendado por ninguém menos do que o deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE), hoje peemedebista alinhado ao governo Lula.

Para o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto (SP), ao brigar internamente, o PT abriu espaço para que as outras legendas também se sentissem no direito de ter disputas internas. O resultado é visível. Existe mais de um candidato em todos os partidos para cada cargo na Mesa Diretora. Até o presidente nacional do PT, José Genoino, um dos avulsos que disputou a presidência da Câmara, assusta-se com a enxurrada de candidatos.

- Eu nunca vi tantos cartazes, banners e santinhos espalhados por este Congresso - admitiu.

A poluição visual fez com que a Câmara assumisse um aspecto sombrio, já que até a luminosidade das lâmpadas fica ofuscada. Por onde se passa, em todos os corredores, posters e cartazes nas paredes confundem a visão. Na sexta-feira, até o corredor que dá acesso às Comissões Permanentes foi inundado de propagandas do candidato oficial, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh. Entusiasmados, cabos eleitorais dos demais candidatos começaram a pregar seus cartazes, sendo barrados pelos assessores da presidência. Diante do fato, o também candidato Severino Cavalcanti (PP-PE) protestou.

- Aqui é um espaço destinado a exposições. Se forem colocar propagandas, coloquem de todos e não só do candidato do Planalto - reclamou.

Resignado, o assessor foi obrigado a retirar, pessoalmente, todos os posters de Greenhalgh.