O Estado de São Paulo, n. 46451, 21/21/2020. Internacional, p. A10
Vacinas são eficazes contra variante
21/12/2020
Segundo especialistas, atuais imunizantes servem para nova cepa do coronavírus do Reino Unido; OMS acompanha mutação do vírus
Os especialistas da União Europeia chegaram à conclusão de que as vacinas atuais contra o novo coronavírus permanecem eficazes contra a nova variante da covid-19 detectada em particular no Reino Unido, anunciou o governo alemão ontem.
"De acordo com tudo o que sabemos até o momento e após discussões que ocorreram entre especialistas das autoridades europeias, a nova cepa não tem impacto sobre as vacinas, que permanecem igualmente eficazes", declarou o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, cujo país atualmente ocupa a presidência rotativa da UE.
O principal conselheiro científico do Reino Unido, Patrick Vallance, disse a The Washington Post que o "vírus se espalhou" após ser observado por meses. "E está se movendo rapidamente, o que levou a um forte aumento nas hospitalizações", disse. O cientista reforçou, porém, que o surto da nova cepa "é controlável e há luz no fim do túnel com a vacinação".
Segundo uma fonte do Ministério da Saúde alemão, em conversa com a agência France Press, os analistas da UE analisaram a situação ontem juntamente com representantes da autoridade alemã de vigilância sanitária (RKI).
A nova cepa do SARS-COV-2, vírus que causa a covid-19, é considerada potencialmente 70% mais transmissível do que a anterior. Ela foi detectada pela primeira vez no sudeste da Inglaterra em setembro e está rapidamente se tornando a cepa dominante em Londres e outras regiões do país. Especialistas disseram, no entanto, que não parece mais letal ou mais resistente às vacinas.
Há algumas semanas, a nova cepa era associada a apenas 10% ou 15% dos casos de covid19 em algumas áreas britânicas; agora, a variante é responsável por 60% dos casos em Londres, segundo o jornal The Guardian. Os cientistas, no entanto, ainda não conseguiram descobrir por que essa mutação do vírus se espalha mais rápido.
O professor de medicina experimental Peter Openshaw, do Imperial College London, disse que os dados do governo britânico sobre a nova variante do coronavírus são "de grande preocupação", observando que a "variante parece cerca de 40% a 70% mais transmissível". Ele disse que o número de casos pode dobrar em "apenas seis ou sete dias" no ritmo atual. "Portanto, é realmente vital que tenhamos tudo sob controle", disse ele a repórteres de ciência no sábado.
Mutações. Autoridades sanitárias em diversos países haviam anunciado meses atrás que o novo coronavírus poderia sofrer mutações e era preciso manter as medidas de proteção para evitar a propagação da doença. A professora de microbiologia da Universidade Cambridge Sharon Peacock, diretora do Covid-19 Genomics UK Consortium, destacou que milhares de mutações no coronavírus foram identificadas desde seu surgimento.
Muitos vírus sofrem mutação e evoluem, tornando-se mais transmissíveis, mas menos letais. Até o momento, a redução da mortalidade entre as pessoas infectadas durante a pandemia foi atribuída a melhorias nos tratamentos. Cientistas britânicos vêm acompanhando a disseminação da nova variante há quase três meses. A nova cepa foi identificada em amostras coletadas de mais de 1.100 pessoas, a maioria das quais vivia no sudeste da Inglaterra.
África do Sul. A nova cepa britânica tem uma mesma mutação que uma linhagem que está crescendo explosivamente na África do Sul. Em uma reunião da Organização Mundial de Saúde (OMS) no início deste mês, os cientistas relataram que a variante sul-africana foi responsável por 80% a 90% das infecções recentemente identificadas, levando a uma segunda onda explosiva.
A OMS vem mantendo contato constante com as autoridades britânicas sobre a nova variante do novo coronavírus e aconselha as pessoas a manter a precaução, usar máscara e manter o distanciamento social,e evitar a propagação da doença.
"Estamos em contato próximo com as autoridades do Reino Unido. Eles continuarão a compartilhar informações e resultados de suas análises e pesquisas em andamento. Atualizaremos o público e os Estadosmembros à medida que soubermos mais", disse a OMS ontem.
"Enquanto isso, aconselhamos as pessoas a tomarem todas as medidas de proteção para evitarem a propagação da covid-19 e cumprir as orientações das autoridades nacionais."
Hoje, a Agência Europeia de Medicamentos deve realizar uma reunião para, em princípio, tratar da primeira vacina que será usada na UE, dos laboratórios Pfizer/biontech – a mesma usada nos EUA e no Reino Unido –, mas o tema da variante da covid-19 também deve ser abordado. / AFP, NYT, WASHINGTON POST e REUTERS