O Estado de São Paulo, n. 46459, 29/12/2020. Metrópole, p. A13

'Quem quer vender' vacina é que tem de ir atrás, diz Bolsonaro
Nicholas Shores
Gustavo Porto
29/12/2020



Presidente afirma que mercado consumidor brasileiro é 'enorme' e, por isso, laboratórios que devem correr atrás

No momento em que vários países anunciam o início da imunização contra a covid-19, o presidente Jair Bolsonaro voltou ontem a minimizar a demora para começar a vacinação no Brasil. Para ele, diante de um mercado consumidor "enorme", os laboratórios é que deveriam estar interessados em pedir a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso dos imunizantes no País.

"O Brasil tem 210 milhões de habitantes, um mercado consumidor de qualquer coisa enorme. Os laboratórios não tinham que estar interessados em vender para a gente? Por que eles não apresentam documentação na Anvisa?", indagou Bolsonaro a um grupo de apoiadores no Palácio da Alvorada, em Brasília. "Pessoal diz que eu tenho que ir atrás. Não, quem quer vender (que tem). Se sou vendedor, eu quero apresentar."

O Ministério da Saúde tem acordos para a compra da vacina da Astrazeneca e participa do consórcio Covax Facility. Há ainda memorando de intenção de compra com diversos fabricantes, sendo o pré-acordo com a Pfizer o mais citado pelo ministro Eduardo Pazuello, ainda que a aquisição não esteja garantida. Além disso, o Instituto Butantã espera distribuir a Coronavac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac. Nenhuma delas, no entanto, tem aval da Anvisa para começar a ser distribuída.

Bolsonaro também reafirmou que os fabricantes dos imunizantes não se responsabilizam por eventuais efeitos colaterais e que também não irá tomar vacina, pois já contraiu covid-19. Estudos científicos já demonstraram que mesmo quem já foi contaminado pelo novo coronavírus pode ser novamente infectado e desenvolver inclusive a forma grave da doença.

Apesar das ressalvas feitas às vacinas, Bolsonaro afirmou que "o cheque de R$ 20 bilhões" para a compra dos imunizantes já foi assinado por ele. "Tem muita gente de olho nesse dinheiro", disse, sem citar nomes. "Impressionante como uma ou outra pessoa que a gente conhece, não vou dizer o nome aqui, jamais se preocuparia com a vida do próximo. A preocupação é outra. Não vou falar qual que é."

Bolsonaro repetiu que não está preocupado com o início da vacinação no País, pois o processo depende da Anvisa. "Se eu vou na Anvisa, que é um órgão de Estado, e digo 'corre aí' , vão falar que estou interferindo."