Título: Contabilidade inflacionada toma conta da Câmara
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2009, País, p. A6

Se depender da contabilidade dos candidatos à presidência da Câmara, o número de parlamentares em atividade na Casa supera em muito os 513. As equipes dos quatro parlamentares que disputam o comando da Casa contabilizam juntas 623 votos. Apesar dos inusitados números, os candidatos não recuam nos dados. O deputado Michel Temer (PMDB-SP) contabiliza pelo menos 300 votos, enquanto o deputado Ciro Nogueira (PP-PI) faz contas com ao menos 203. Já o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) contaria com 90 votos e o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) com 30.

A principal explicação para o descompasso nos números reais e os apresentados pelas equipes dos quatro candidatos é que os deputados eleitores se protegem por meio da votação secreta. Interlocutores que acompanham as negociações na Câmara afirmam que Temer seria o mais prejudicado nas contas. Sob efeito da candidatura do senador José Sarney (PMDB-AP) e com fama de manter contatos apenas com as cúpulas dos partidos, Temer sofreria traições de última hora. Com isso o principal beneficiado seria Ciro, garantem alguns deputados. Próximo dos parlamentares que integram o chamado baixo clero, o deputado do PP faz corpo a corpo intensamente. Ele evita os líderes das bancadas e opta pelos deputados menos conhecidos das legendas.

Espelhos

Ontem, Ciro inovou em sua estratégia de campanha. Os principais corredores da Câmara amanheceram com espelhos distribuídos em locais estratégicos com a seguinte inscrição, exposta logo abaixo foto de Ciro: "Veja quem vai mandar na Câmara". ­ Converso com os colegas, mostro que a Câmara precisa ter independência e autonomia ­ disse ele, que nos últimos dias tem deixado seu gabinete por volta das 23h e retornado no dia seguinte às 8h. ­ Tem de trabalhar, conversar muito e ouvir bastante. Apontado por vários deputados como o principal adversário do favorito na disputa, Michel Temer (PMDB-SP), Ciro se orgulha de dizer que conhece cada um dos 513 parlamentares da Câmara. Ao andar pela Câmara, Ciro conversa com cada deputado que o cumprimenta, troca cochichos e agradece promessas de votos.

Já Aldo ganharia apenas uma pequena parte dos votos que seriam destinados a Temer, especulam alguns parlamentares. O deputado do PCdoB sofreria resistência daqueles que foram contrários à formação do bloquinho, o bloco das esquerdas proposto por ele durante a eleição do atual presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), em 2007. Serraglio teria apenas o apoio de peemedebistas insatisfeitos com a eventual pressão dos líderes do PMDB pela candidatura de Temer. Para ser vitorioso no primeiro turno, um candidato deve obter mínimo de 257 votos.