Título: Tião Viana acata exigências tucanas
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2009, País, p. A6

Petista tenta aproveitar dificuldades de Sarney para acomodar PSDB. DEM fecha com PMDB

BRASÍLIA

Candidato à presidência do Se- nado, o senador Tião Viana (PT-AC) concordou com as exigências do PSDB para receber o apoio tucano à sua candidatura. Tião disse aceitar os 12 pontos apresentados pelo PSDB aos dois candidatos ao cargo ­ além de Tião, Viana, o senador José Sarney (PMDB-AP) também está na disputada. Entre as exigências, está a de ser contrário à Proposta de Emenda ä Constituição (PEC) que prevê um terceiro mandato presidencial. ­ Observo a coincidência dos 12 pontos com compromissos afirmados na defesa da renovação do Poder Legislativo que minha candidatura representa ­ comentou o senador petista, sem mencionar a exigência tucana de que o Senado não aprove a entrada da Venezuela no Mercosul, bandeira defendida pelo PT, de Tião, na Casa.

Ontem, Sarney foi criticado por senadores de vários partidos por ter se declarado publicamente contra a aceitação da Venezuela no bloco. Mesmo depois da divulgação da carta, o PSDB anunciou que deixa para domingo a decisão sobre qual candidato à presidência do Senado vai apoiar. Tião aposta no apoio da bancada tucana ao seu nome depois que Sarney impôs resistências ao PSDB nas negociações para cargos na Mesa Diretora e nas comissões permanentes. O PMDB sinalizou que não pretende ceder a presidência da Comissão de Relações Exteriores ao PSDB, que deseja emplacar o senador Eduardo Azeredo (MG) no cargo.

Os tucanos vislumbram também o comando da Comissão de Assuntos Econômicos para o senador Tasso Jereissati (CE), além da primeira-vice-presidência da Casa com Marconi Perillo (GO). Sarney argumentou que seria possível dar a CAE para Tasso, mas indicou que não havia condições de recuar no compromisso de o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) ficar no comando da Comissão de Relações Exteriores. As restrições do PMDB irritaram a cúpula tucana, que agora ameaça embarcar na candidatura de Tião. Parte do PSDB, porém, tem resistências a uma aliança com o PT porque em nível nacional os dois partidos são adversários políticos.

Perde e ganha

Se, por um lado, a concorrência pelo apoio tucano ficou mais acirrada, por outro Sarney assegurou um importante aliado ontem. Segunda maior bancada no Senado, com 14 parlamentares, o Democratas (DEM) oficializou o apoio à sua candidatura. A parceria já era praticamente certa, uma vez que o líder do partido, Agripino Maia (RN), sempre declarou que o partido respeitaria o critério da proporcionalidade partidária. Segundo Maia, não houve, na reunião da bancada democrata realizada ontem, qualquer manifestação contrária à candidatura de José Sarney.

Maia também manifestou seu "desejo" de que Sarney venha a ser apoiado pelo PSDB. Enquanto Tião tenta se aproximar do PSDB, Sarney está preocupado em recompensar o atual presidente da Casa, Garibaldi Alves (PMDB-RN). A ideia é nomear Garibaldi para a presidência da Comissão Mista de Orçamento, uma vez que ele abriu mão de disputar o comando da Casa para evitar um embate interno no partido. Mas há um antigo compromisso do PMDB com o senador Valter Pereira (PMDB-MS). No ano passado, o comando do PMDB garantiu a Pereira que ele seria o presidente da comissão. Mas sem um acordo para o impasse, os aliados de Sarney adiam comunicar a ambos qual é a tendência da bancada.

A Comissão Mista de Orçamento terá um papel de destaque em 2009, considerando os impactos da crise financeira internacional, o eventual contingenciamento de R$ 37 bilhões já anunciados pelo Ministério do Planejamento e os reajustes nos benefícios do programa Bolsa Família. A disputa pela presidência do Senado envolve interesses partidários que vão muito além do desejo de comandar o Congresso Nacional. O novo presidente da Casa, que será eleito segunda-feira, terá a prerrogativa de selecionar o que entra na pauta de votações em pleno ano eleitoral. Com o mandato de dois anos, Tião ou Sarney vão estar no comando da Casa durante a disputa pela Presidência da República, em 2010.

Cabe ao presidente do Senado ditar o ritmo de votações e elaborar a pauta, o que poderá beneficiar ou prejudicar o governo em meio à corrida rumo ao Palácio do Planalto. Embora os dois candidatos sejam alinhados com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PMDB não esconde o desejo de presidir o Senado para ganhar força política em 2010. Os peemedebistas, que não pretendem lançar candidato próprio à Presidência, são cortejados pelo PT e pela oposição para eventual composição de chapa. (Com agências)