Título: Uma guerra de bastidores pela Abin
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2009, País, p. A7

Quatro agentes e um diplomata estão na briga pela vaga aberta com a saída de Lacerda

Vasconcelo Quadros

BRASÍLIA

A demora em solucionar a longa interinidade no comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ­ que já dura seis meses ­ está estimulando uma disputa de bastidor pela sucessão do delegado Paulo Lacerda, exonerado do cargo e indicado pelo governo como adido policial na Embaixada do Brasil em Portugal. Além do nome, o que está em jogo agora é o novo rumo que o governo deverá dar à agência, alvo de uma queda de braço entre os ministros Nelson Jobim, da Defesa, e Jorge Felix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), durante a crise gerada com a Operação Satiagraha e a suspeita de grampo no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.

O assunto vem sendo coordenado por um grupo de ministros formado por Dilma Roussef (Casa Civil), José Múcio (Relações Institucionais), Tarso Genro (Justiça), Nelson Jobim (Defesa) e o general Felix, a quem caberá encaminhar o nome ao presidente Lula. Apesar do estigma herdado de seu antecessor, o antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) ­ usado durante a ditadura militar para espionar opositores ­ e da má repercussão do papel exercido durante a Operação Satiagraha, a Abin é um dos órgãos mais cobiçados pelas Forças Armadas, muito em função da estrutura de inteligência que dispõe para tratar de questões estratégicas ­ pessoal especializado, equipamentos e programas que a agência mesmo produz na coleta e proteção de informações e conhecimentos qualificados.

Os mais cotados fazem parte dos quadros da Abin: o agente de inteligência, Christian Schineider, chefe da Secretaria de Desenvolvimento do Centro-Oeste do Ministério da Integração Nacional, o atual diretor-geral interino,Wilson Trezza, e outros dois oficiais de inteligência do próprio órgão, Ronaldo Belhan e Luiz Alberto Salaberry.

Dirceu

Destes, o que mais tem se mo- vimentado é Christian Schneider. Ele tem a simpatia de petistas fiéis ao ex-ministro José Dirceu. No início do governo Lula, em 2003, então chefe da Casa Civil, Dirceu envolveu-se diretamente na formatação do novo modelo da Abin, indicando para o cargo o delegado paulista Mauro Marcelo de Lima e Silva. Por ironia do destino, Dirceu se tornaria um dos alvos do delegado Protógenes Queiroz, que se utilizaria de ostensivo apoio da Abin para investigar o banqueiro Daniel Dantas.

Fora dos quadros da agência, aparece o diplomata José Antônio de Macedo Soares, secretário-adjunto do GSI, com passagem por várias embaixadas, especialista em inteligência, estudioso do crime organizado e ex-conselheiro da Secretaria Nacional Anti-Drogas e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, parceiros da Abin. ­ Apresentamos o Belhan e do Salaberry, mas achamos que o Christian também é um bom nome ­ diz o presidente da Associação dos Servidores da Abin (Asbin), Robson Vignoli. ­ O importante é que seja ético, competente e entenda de inteligência. Se for da carreira, ótimo. Senão, o governo terá a liberdade de indicar. ­

O Obama nomeou para a CIA (Central de Inteligência Americana) um servidor (Leon Panetta) que não pertencia ao órgão ­ lembra o deputado Maurício Rands (PT-PE), líder do PT na Câmara. O presidente da CPI do Grampo, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) sugere um servidor da Abin. ­ Tem de conhecer a cultura institucional e entender de inteligência ­ diz Itagiba. Mais importante, segundo ele, é que a Abin cumpra o seu papel sem entrar mais em searas que pertencem à Polícia Federal.