O Estado de São Paulo, n. 46457, 27/12/2020. Metropole, p. A12

 

Vacinação: ‘Ninguém me pressiona para nada’, diz Bolsonaro

Gabriela Biló

27/12/2020

 

 

Um dos consensos em torno da pandemia é de que as circunstâncias contribuíram para acelerar a transformação digital das empresas e dos lares brasileiros. Home office, estudo online, telemedicina, compras pela internet, todos esses aspectos acumularam ao longo de 2020 avanços que só seriam alcançados em três, cinco ou até dez anos.

O aumento no número de casos de covid-19 nas últimas semanas de 2020 reafirmou, para muitas empresas, o acerto da decisão de estender o esquema de trabalho remoto. Muitas já estão decididas a torná-lo definitivo mesmo depois da pandemia.

Uma ampla pesquisa realizada em novembro pela SAP Consultoria em Recursos Humanos confirmou o quanto o home office veio para ficar. Das 554 empresas de diferentes segmentos e portes ouvidas, 46% já adotavam a prática de trabalho remoto de forma estruturada antes da pandemia e 52% a adotaram emergencialmente neste ano, por força das circunstâncias. Dessas, 72% pretendem torná-la definitiva, ainda que em eventuais modelos híbridos.

DIGITAL É A REGRA

Este ano pandêmico reforçou a necessidade de adaptação à tecnologia por parte das pessoas, dos profissionais e das corporações, sob pena de simplesmente ficarem para trás. A chamada Qualificação Digital é uma urgência diante da projeção de que, ao longo da década que está começando, 30% dos empregos atuais simplesmente deixarão de existir por conta da evolução tecnológica, com o crescente uso de recursos de inteligência artificial e de robótica.

Enquanto isso, os empregos em tecnologia estão sobrando no mercado brasileiro. São cerca de 30 mil vagas em aberto no País – algumas há vários meses, pois muitas empresas não conseguem encontrar profissionais preparados e disponíveis para preenchê-las.

A perspectiva é de que esse déficit continue aumentando. A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) projeta uma demanda de 70 mil novos profissionais por ano até 2024, enquanto o número de formados pelos cursos oficiais da área no País não chega a 50 mil por ano.

A missão de encontrar profissionais prontos se torna ainda mais complexa porque não basta ter conhecimentos técnicos. Cada vez mais, é preciso se destacar também nas chamadas soft skills. De acordo com a pesquisa Tech Jobs Report, realizada pela escola de tecnologia Gama Academy, os atributos de comportamento mais buscados pelas contratantes são capacidade de resolução de problemas (citado por 87,3% dos recrutadores entrevistados), facilidade para trabalho em equipe (85,5%) e proatividade (80%). "O fato é: o digital é a regra e se adaptar a ele é uma necessidade real", resume Guilherme Junqueira, CEO da Gama Academy.

EQUILÍBRIO VIDA-TRABALHO

Em outra pesquisa divulgada recentemente, realizada com grandes empresas do Brasil e outros quatro países da América Latina pela consultoria de negócios e tecnologia Everis, braço do grupo japonês NTT Data, 81% dos executivos ouvidos consideram que a transformação digital é o principal fator de mudança no mercado de trabalho para a década que está começando. Ao mesmo tempo, apenas 47% disseram que a empresa em que trabalham já tem uma estratégia de transformação digital que integra os esforços e objetivos da corporação.

"A transformação digital é considerada uma reinvenção completa das empresas, sob um enfoque estratégico, operacional, tecnológico e até humano", diz Carlos Company, head de Estratégia Digital da Everis América. "Um princípio-chave reside não apenas na migração da operação para canais ou plataformas digitais, mas na identificação de como os novos desenvolvimentos tecnológicos podem funcionar como facilitadores de novos modelos de negócios."

A pesquisa, que no Brasil incluiu empresas como Grupo Pão de Açúcar, Latam, Porto Seguro e Itaú, revelou que 80% das participantes consideram não dispor de talentos suficientemente preparados para enfrentar os desafios do futuro. Além disso, 53% admitiram que não estão conseguindo atender adequadamente às demandas dos novos talentos – a principal dessas demandas, na visão das empresas, é o equilíbrio entre vida e trabalho, citada por 82% dos entrevistados.