Título: Ata do Copom revela intenção de promover novos cortes
Autor: Monteiro, Ricardo Rego
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2009, Economia, p. A17

A perspectiva de desaceleração econômica e inflação em ritmo decrescente garantiu ao Comitê de Política Monetária a retomada do ciclo de cortes do juro, mas as dúvidas ainda permanecem sobre o ritmo e o tamanho dos próximos passos do Banco Central. De acordo com a ata da primeira reunião do Copom de 2009, divulgada ontem, a forte desaceleração da economia e a ausência de repasse da desvalorização cambial para os preços foram as principais razões por trás da decisão da semana passada, quando o comitê fez o primeiro corte do juro desde setembro de 2007 e baixou a Selic para 12,75%.

Apesar de ter promovido o corte mais forte da taxa desde 2003, os diretores do BC deixaram claro que qualquer mudança no quadro de riscos inflacionários provocará alteração imediata na política monetária, mesmo considerando o espaço existente para um ciclo duradouro de cortes da taxa básica.

"A política monetária deve manter postura cautelosa, visando assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas, a despeito de haver margem para um processo de flexibilização", afirmaram os diretores do BC na ata. Analistas foram unânimes em dizer que o juro será reduzido mais uma vez em março, quando o Copom realiza sua segunda reunião do ano. Mas a unanimidade dá lugar à divisão quando o assunto é o tamanho do corte. ­

O mercado vai continuar dividido entre 0,75 e 1 ponto de corte na próxima reunião ­ disse Roberto Padovani, economista-chefe do WestLB do Brasil. Uma das razões por trás da dúvida, segundo Padovani, foi a falta de explicações na ata sobre a afirmação feita pelo Copom quando anunciou o corte, ao dizer que "parte relevante" do ciclo de flexibilização já estaria sendo feito de imediato.

Desaceleração ajuda

A própria divisão dentro do Co- mitê ­ dos oito integrantes, três defenderam uma redução de 75 pontos-base ­ também contribui para as incertezas do mercado, uma vez que, para estes diretores, o corte menor corresponderia melhor à velocidade de implementação do processo de flexibilização. ­ Quando o Copom fala que o 0,75 ponto defendido pelos dissidentes seria uma velocidade ótima, cria o sentimento de que um corte de 0,75 ponto seria o objetivo para as próximas reuniões ­ afirmou Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin. No mercado de juros futuros os contratos mais negociados não sofreram grandes alterações após a divulgação da ata.

O contrato para janeiro de 2010, tradicionalmente o mais negociado e que indica a expectativa para a taxa Selic ao final de 2009, variou boa parte da sessão em torno de 11,23%, mesmo patamar de fechamento da quarta-feira. A desaceleração do ritmo de crescimento da atividade econômica foi destacada na ata do Copom como um dos principais fatores que permitiram o corte da Selic.