O Estado de S. Paulo, n. 46449, 19/12/2020. Política, p. A14

 

Cidadania afasta deputado em SP após acusação de assédio sexual

Adriana Ferraz

Bianca Gomes

Rodrigo Sampaio

19/12/2020

 

 

O  Cidadania anunciou ontem o afastamento do deputado estadual Fernando Cury, acusado de assédio sexual contra a deputada Isa Penna (PSOL) durante uma sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Segundo documento assinado pelo presidente nacional do partido, Roberto Freire, Cury ficará afastado até a conclusão do procedimento disciplinar que tramita na legenda.

“O deputado estadual Fernando Cury fica liminarmente afastado de todas as funções diretivas partidárias, em todas as instâncias, bem como de todas as funções exercidas em nome do Cidadania, inclusive junto à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo”, diz o documento, que classificou o episódio envolvendo o parlamentar como “grave”.

O vídeo do momento do assédio foi transmitido ao vivo pelo canal da Alesp no Youtube. Nele, Isa Penna aparece conversando com o presidente da Casa, Cauê Macris (PSDB), quando Cury se aproxima da Mesa Diretora e se posiciona atrás da deputada, colocando a mão na lateral de seus seios. Em seguida, a parlamentar empurra o deputado para afastá-lo de seu corpo.

Ontem, a deputada anunciou o lançamento de um manifesto com abaixo-assinado em que pede a cassação de Cury. Segundo nota oficial, a iniciativa foi necessária pois a Comissão de Ética da Assembleia, composta por uma mulher e cinco homens, pautaria o caso somente para março próximo. “O silêncio do governador, João Doria, e do presidente da Alesp, Cauê Macris, apontam que o plano é empurrar o caso para debaixo do tapete”, disse Isa nas redes sociais. Isa disse que quer a cassação de Cury, mas não por vingança. Ela afirmou que vai buscar neste momento promover um “diálogo” com a sociedade sobre a violência contra a mulher.

Macris afirmou, por meio de assessoria de imprensa, que a Casa tomou as medidas necessárias com a abertura imediata de um processo no Conselho de Ética assim que a denúncia foi feita pela deputada do PSOL. Procurado por meio de assessoria de imprensa, o governador não havia se manifestado.

O boletim de ocorrência eletrônico e a representação no Conselho de Ética da Alesp foram feitos na quinta-feira, mas o boletim presencial, que seria feito ontem, acabou sendo adiado por orientação da equipe jurídica da parlamentar.

Na quinta-feira, Cury foi à tribuna e disse estar “constrangido” e “triste” e se desculpou pelo que chamou de “abraço”. “Gostaria de frisar que não houve, de forma alguma, tentativa de assédio”, afirmou. “Eu nunca ia fazer isso na frente de 100 deputados.”

Família de políticos. Natural de Botucatu, Fernando Cury tem 41 anos e está em seu segundo mandato na Alesp – em 2018, ele foi reeleito com aproximadamente 100 mil votos. Ele é membro da bancada ruralista e integra a Comissão de Saúde na Casa.

Cury vem de uma família de políticos. Seu pai, Antônio Jamil Cury, foi o prefeito de Botucatu nos períodos de 1983 a 1988 e de 1993 a 1996. Ele também foi presidente do Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), nomeado em 1997, pelo ex-governador Mário Covas (1995-2001). Já seu irmão, João Cury, esteve à frente do município por dois mandatos consecutivos, entre 2009 e 2016, e é o atual presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp).

Em seu site oficial, Fernando Cury mantém com destaque uma foto dele com seus dois filhos e a sua mulher sobre o título: “Um trabalho dedicado a melhorar a vida das pessoas”.