Título: O duro jogo por votos no Congresso
Autor: Correia, Karla
Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2009, País, p. A10

A briga pelas comissões parlamentares dita os rumos da eleição na Câmara e no Senado

Karla Correia

BRASÍLIA

Em paralelo à batalha pelo comando da Câmara e do Senado, corre uma dura disputa pelas comissões temáticas das duas Casas entre as bancadas partidárias do Congresso. Frequentemente usadas como moeda de troca entre os partidos pelo apoio a candidatos às duas cadeiras de presidente no Parlamento, as presidências das comissões permanentes e a briga por espaço entre as legendas ganham ainda mais peso na última semana antes da eleição para os cargos das duas Mesas Diretoras.

Uma das mais importantes do Senado, a Comissão de Constituição e Justiça está no centro de uma queda de braço entre PMDB e DEM, hoje na presidência da comissão com Marco Maciel (PE). Na legenda aliada ao governo, a vaga é vista como uma espécie de prêmio de consolação ao atual presidente da Casa, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que teve sua candidatura preterida pela legenda e pelo Palácio do Planalto com a entrada oficial do senador José Sarney (PMDB-AP) na disputa e decidiu abandonar o páreo. Seria um gesto do cacique para satisfazer sua própria bancada. Igualmente posto em segundo plano pelo Planalto com a candidatura de Sarney, o petista Tião Viana (AC) acena ao DEM com a promessa da vaga, em troca do apoio da legenda de oposição. Demóstenes Torres (DEM-GO) seria o nome escalado para a CCJ.

Sem ainda ter escolhido um lado, a bancada tucana vê seu cacife crescer à medida que a eleição se aproxima. Até a quinta-feira, a legenda, dona de 13 votos na Casa, deve fechar questão em torno de um dos dois candidatos. Na Mesa Diretora, Sarney oferece a Quarta Secretaria e a primeira Vice-Presidência pelo apoio da bancada do PSDB. Mas os tucanos querem mais. A legenda pleiteia o comando das Comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Relações Exteriores (CRE), hoje nas mãos do PT e do DEM. Os nomes para as duas vagas seriam, respectivamente, o cacique Tasso Jereissati (CE) e o ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo.

Indefinição na Câmara

Apesar do favoritismo do candidato do PMDB, Michel Temer (SP) ao comando da Câmara, o páreo da chamada Casa Baixa do Parlamento vive momentos de incerteza nos últimos dias antes da eleição para a Mesa Diretora que comandará a Casa nos próximos dois anos. Na Mesa Diretora, a poderosa Primeira Secretaria deve ir para o PSDB, caso Temer confirme seu favoritismo. Indefinido no Senado, o partido granjeou apoio ao PMDB desde o início das negociações.

Mas a possibilidade do PMDB estar à frente das duas Casas do Congresso em um período tão sensível para as eleições de 2010 aumenta a chance de traições ao candidato formalmente apoiado pelo Palácio do Planalto, observa o líder do PSB, Rodrigo Rollemberg (DF). Representante de maior peso do chamado bloquinho de esquerda ¿ enfraquecido com a saída do PDT e sua adesão à campanha de Temer ¿ o PSB mantém-se ao lado do candidato lançado pelo grupo, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e pleiteia, além de uma vaga na Mesa Diretora da Câmara, duas comissões. Tem poucas chances de conseguir sua maior ambição: a poderosa Comissão de Ciência e Tecnologia, responsável pela aprovação de concessões de Rádio e Televisão, entre outras funções. Contenta-se, segundo Rollemberg, com as Comissões de Turismo e da Amazônia Legal. E mantém o espírito do bloquinho em relação ao PDT.

¿ Temos direito a três comissões e não vamos deixar o PDT de lado nessa partilha, não vamos fazer qualquer tipo de retaliação ¿ diz o líder do PSB.