Correio Braziliense, n. 21130, 01/04/2021. Brasil, p. 5

 

Quase 4 mil mortes em 24h pelo segundo dia

Simone Kafruni

01/04/2021

 

 

Pelo segundo dia consecutivo, o Brasil ficou próximo das 4 mil mortes pela covid-19 em apenas 24 horas. Balanço do Ministério da Saúde, divulgado ontem, mostrou que 3.869 pessoas não resistiram ao novo coronavírus de terça para quarta-feira — no período imediatamente anterior, haviam sido registrados 3.780 óbitos. É a quinta vez que o país registra mais de 3 mil vítimas por dia. Os números coincidem com os do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).

Com isso, o país totaliza 321.515 mortes causados pela doença. O número de casos registrados passa de 12,7 milhões, com 1,2 milhão em acompanhamento e 11,1 milhões recuperados (87,6%). Apenas nas últimas 24 horas, foram mais de 90 mil novas infecções. São Paulo segue como a unidade da Federação com mais mortes, 74.652 — sendo 1.160 nas últimas 24 horas.

O estado do Rio de Janeiro registrou 295 óbitos por covid-19 e 3.121 novos casos da doença no mesmo período, o terceiro maior número de mortes em 24 horas desde o início da pandemia. No Distrito Federal, 117 pessoas não resistiram ao novo coronavírus, de um total de 6.029.

Segundo Alexandre Naime Barbosa, chefe da infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), pelas projeções epidemiológicas feitas por consórcios, como o Observatório Covid-19, da Fiocruz, e a Universidade John Hopkins, o Brasil só vai atingir o pico na primeira quinzena de abril. "Infelizmente, vamos ver esses números crescendo por mais duas semanas", projetou.

Rebanho
Depois disso, segundo o especialista, os números podem começar a cair. "Não pela vacinação rápida, porque nosso programa de imunização está lento. Mas porque, em um determinado momento, são tantas pessoas infectadas que já têm um certo grau de defesa que o vírus não consegue vencer. É o que a gente chama de imunidade de rebanho", destacou.

Segundo Naime, a imunidade de rebanho era a última coisa que os médicos queriam, porque o preço a ser pago é muito alto. "Para chegar a ela, o preço é esse número absurdo de mortes que estamos vendo todos os dias", lamentou.

Ele explicou que isso está ocorrendo por falta de compromisso da população com as regras e pela condução da política nacional de combate à pandemia. "Se continuar com essa velocidade de vacinação, vamos chegar ao fim do ano com mais de meio milhão de mortes", previu.

Na opinião de Julival Ribeiro, também da SBI, os melhores exemplos de países que estavam em situação crítica e estão conseguindo reduzir a contaminação são Reino Unido, Israel e Chile. "Nesses três, foram adotadas medidas e vacinação em massa. Duas coisas que não temos aqui", observou.

Conforme disse, o Chile fez um novo lockdown esta semana porque descobriram que a variante amazonense, a P.1, estava circulando lá. "Ela é muito mais transmissível e mais grave, acometendo pacientes jovens", explicou.