Título: Crescem investimentos estrangeiros no país
Autor: Aliski, Ayr; Totinick, Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2009, Economia, p. A20

Sem fechar o mês de janeiro já foram de US$ 2,1 bilhões

Ayr Aliski e Ludmilla Totinick

BRASÍLIA E RIO

Para 2009, mesmo com a piora do cenário econômico internacional, o Banco Central (BC) prevê a chegada de novos US$ 30 bilhões de investimentos diretos estrangeiros (IED). Para comprovar o otimismo, Lopes divulgou o resultado parcial de janeiro, indicando chegada, até ontem, de US$ 2,1 bilhões em IED. Para todo o mês, há estimativa de US$ 2,5 bi. Os números das contas externas foram divulgados ontem pelo BC, envolvendo dados consolidados do ano passado e resultados parciais deste início de ano.

A quantidade de dólares trazida por investidores internacionais para a realização de novos projetos bateu recorde em 2008: foram US$ 45 bilhões, o maior volume de dinheiro que chega ao país para IED desde 1947. É 32,3% maior do que o montante de US$ 34,5 bilhões obtido em 2007. Somente em dezembro do ano passado, US$ 8,1 bilhões entraram no país. São recursos de longo prazo, utilizados em ações como aquisição de empresas ou compra de participação acionária, assim como instalação de novos projetos.

Transações correntes

O cenário positivo não vale para o resultado consolidado das transações correntes (parte do balanço de pagamentos a qual envolve a balança comercial, as contas de serviços e financeira), que fechou 2008 com déficit de US$ 28,3 bilhões, o pior em dez anos. Há estimativa de novo resultado negativo de US$ 3,2 bilhões em janeiro e de US$ 25 bilhões para o ano. Há, portanto, nítida reversão de tendência, pois em 2007 as transações correntes tinham obtido superávit de US$ 1,5 bilhão. Por pouco o rombo de 2008 não atingiu o valor recorde de déficit em transações correntes, de US$ 33,4 bilhões, em 1998.

Dois fatores explicam a piora do resultado em transações correntes. O primeiro é o emagrecimento da balança comercial em US$ 15,2 bilhões (o saldo positivo havia chegado a US$ 40 bilhões em 2007; mas caiu para US$ 24,7 bilhões em 2008). O segundo fator é a piora do perfil da conta de serviços e rendas (o déficit pulou de US$ 42,5 bilhões em 2007, para US$ 57,2 bilhões em 2008).

A retração do déficit em transações correntes em 2009, na comparação com 2008, deve ser impulsionada pela queda de vários indicadores, inclusive o de remessas de recursos para o exterior, que devem ficar em US$ 20 bi este ano. No ano passado essas remessas atingiram US$ 33,8 bi, frente impacto negativo de US$ 22,4 bi, em 2007. Ou seja, as empresas que tiveram que ajudar suas matrizes no exterior, no auge da crise econômica, no último trimestre de 2008, procuraram várias alternativas possíveis para realizar remessas no ano passado.

O diretor do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais, André Nassar, diz que o saldo negativo foi influenciado pela crise.

A queda da demanda externa, segundo o economista, a redução do preço das principais commodities, que influenciaram a baixa receita das exportações, e o aumento das importações combinados foram os responsáveis pela maior saída de dinheiro para o exterior do que a entrada de capital externo no país.