Correio Braziliense, n. 21130, 01/04/2021. Negócios, p. 8

 

Desemprego atinge 14,3 mi

Marina Barbosa

Gabriela Bernardes

01/04/2021

 

 

O Brasil começou este ano com 14,3 milhões de desempregados e uma taxa recorde de desemprego para o trimestre encerrado em janeiro de 14,2%. Especialistas dizem, no entanto, que esses números ainda vão se agravar ao longo de 2021. É que a oferta de vagas de trabalho ainda não é suficiente para contemplar todos os brasileiros que perderam o emprego na pandemia de covid-19 e deve desacelerar nos próximos meses devido ao agravamento da crise sanitária.

Segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 200 mil pessoas entraram na fila do desemprego no trimestre móvel encerrado em janeiro deste ano. Ao mesmo tempo, 1,7 milhão de trabalhadores foram incorporados à população ocupada, isto é, encontraram uma ocupação, sobretudo no mercado informal. "O crescimento da ocupação foi muito sustentado pelo crescimento da informalidade. Desse 1,7 milhão de pessoas, 1,4 milhão, ou seja, 80% da ocupação, foi de trabalhadores informais", contou a analista da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE, Adriana Beringuy.

Especialistas explicam que, com o fim do auxílio emergencial e o desemprego elevado, muitos trabalhadores informais voltaram às ruas em janeiro deste ano para tentar se sustentar. Eles também lembram, no entanto, que a oferta de vagas ainda é menor que o número de brasileiros em busca de um trabalho, razão que explica o aumento do desemprego. Esse movimento deve continuar nos próximos meses.

"Em janeiro, a força de trabalho ainda estava com 5,8 milhões de pessoas a menos do que no mesmo período de 2020. Isso significa que 5,8 milhões de pessoas saíram da força de trabalho na pandemia e ainda vão voltar para o mercado de trabalho. Por isso, os números do desemprego devem continuar crescendo", explicou o pesquisador do IDados e do IBRE/FGV, Bruno Ottoni. Ele acredita, então, que a taxa de desemprego pode bater 16% em meados deste ano.

A economista da Coface, Patrícia Krause, defende a volta do Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) para evitar mais desemprego. "Ao suspender o contrato de trabalho, o BEm pode ajudar a evitar demissões na pandemia", explicou Patrícia.

Muitos empresários se dizem "frustrados e decepcionados" com a demora da reedição do BEm, ainda não confirmada por conta dos impasses do Orçamento. O setor de bares e restaurantes já diz, inclusive, que não vai conseguir pagar os salários dos seus funcionários na próxima semana. É um drama que atinge trabalhadores como Wilderson Gomes, de 32 anos. "Eu trabalhava como atendente em um restaurante, mas o restaurante fechou por conta da pandemia. Passei meses sem trabalhar, até conseguir um emprego em uma padaria. Mas, agora, com a segunda onda e o novo lockdown, fui demitido outra vez, infelizmente", lamentou.