O Estado de S. Paulo, n. 46454, 24/12/2020. Metrópole, p. A10

 

Butantã e governo dizem que Coronavac é eficaz, mas não apresentam os dados

Fabiana Cambricoli

24/12/2020

 

 

O governo de São Paulo e o Instituto Butantã anunciaram ontem que a Coronavac, vacina desenvolvida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, superou o índice mínimo de eficácia exigido pelas agências regulatórias (50%). Não foram apresentados o porcentual exato de eficácia do imunizante nem os demais dados do estudo final. A justificativa para o novo atraso na divulgação das informações foi a de que a Sinovac solicitou a base de dados para mais análises. É a quarta vez que se adia a apresentação dos resultados de eficácia.

O Butantã havia prometido que, após a apresentação dos resultados, submeteria à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de imediato tanto o pedido de registro definitivo do imunizante quanto a autorização para uso emergencial, o que, agora, deverá ficar para janeiro. Os testes de fase 3 da Coronavac eram realizados simultaneamente em Brasil, Turquia e Indonésia. Representantes do governo paulista e do Butantã argumentaram que os dados de eficácia verificados entre os voluntários brasileiros foram diferentes dos vistos nos outros países onde a vacina estava sendo testada e, por isso, a Sinovac solicitou uma reavaliação, que poderá demorar até 15 dias.

"Eles entenderam o fato de nós termos eficácia superior a isso (50%), porém (foi) diferente de outros países em que essa vacina está em uso, (por isso) merece uma reavaliação. O fato disso acontecer transmite isonomia", justificou o secretário estadual da Saúde paulista, Jean Gorinchteyn, sem detalhar se a eficácia medida no Brasil foi superior ou inferior à de outros locais.

O diretor do Butantã, Dimas Covas, afirmou que, por questões contratuais, eles atenderam ao pedido da Sinovac para não divulgar os resultados até a reavaliação. "Recebemos os dados de eficácia ontem. Atingimos o limiar da eficácia, que permite o processo de solicitação de uso emergencial, seja aqui no Brasil ou na China. Temos um contrato com a Sinovac que especifica que o anúncio desse número precisa ser feito em conjunto. Ontem mesmo apresentamos esses números à parceira, que, no entanto, solicitou que não houvesse a divulgação do número. Eles precisam analisar cada um dos casos. Para que isso fosse possível, solicitaram a transferência da base de dados. Essa base de dados foi transferida na manhã de hoje (ontem), para que eles possam proceder essa análise o mais rapidamente possível. Solicitaram o prazo de 15 dias para que isso aconteça, mas acreditamos piamente que essa data será adiantada", disse.

O diretor do Butantã afirmou que a vacina foi eficaz na prevenção de casos graves da doença, pois todos os pacientes que manifestaram quadros mais severos de covid-19 estavam no grupo que recebeu o placebo. "Tivemos na coorte (grupo de voluntários do estudo) casos considerados clinicamente graves. No grupo vacina, não teve nenhum caso grave. O grau de proteção da vacina em relação a esses casos foi de 100%", destacou.

Mortes. As vacinas são a principal aposta para conter a pandemia, uma vez que as medidas de isolamento não têm sido suficientes para reverter a tendência de alta em mortes e casos. A média móvel de óbitos ficou em 777 vítimas ontem, conforme dados do consórcio da imprensa. Nas últimas 24 horas, o País registrou 979 novos óbitos e 46.657 novos diagnósticos confirmados da covid-19.

Limiar

"Recebemos os dados de eficácia ontem. Atingimos o limiar da eficácia, que permite o processo de solicitação de uso emergencial, seja aqui no Brasil ou na China."

Dimas Covas

DIRETOR DO BUTANTÃ