Título: Próximo passo: diálogo com oposição
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2009, Internacional, p. A23

Morales se mostra disposto a debater com rivais um consenso para aplicar nova Carta

Um dia depois de conseguir votos e apoio da maior parte da população para aprovar sua proposta de Constituição, o presidente Evo Morales vê como próximo passo para seu projeto de reforma do país uma série de diálogos com a oposição.

De acordo com alguns analistas, os resultados ¿ que dão ao "sim" entre 58% e 60% dos votos contra 40% a 42% do "não" ¿ obrigam governo e oposição regional a debater espaços de consenso para aplicar a nova Carta Magna.

¿ O Movimento ao Socialismo (MAS), de Morales, e o governo deveriam encabeçar a busca por negociações com os atores da oposição, porque eles têm muito apoio popular, apesar de alguns terem mostrado atitudes violentas recentemente ¿ opinou à agência France Press o analista Ximena Costa.

A matéria divulgada pela agência informou que Morales teria manifestado a intenção de diálogo com os rivais em conversas informais nas ruas após a eleição, no domingo.

O texto aprovado reforça o papel do Estado, consolida a nacionalização de recursos, permite a reeleição presidencial e reforça os poderes dos indígenas, que compõem 47% dos 10 milhões de bolivianos.

O presidente lutou para conseguir com que sua Carta fosse aprovada a nível nacional, no domingo, mas a insatisfação contra o governo na metade mais rica da Bolívia fez com que renascesse uma oposição que vinha sendo silenciada.

As quatro regiões onde o "não" foi consenso entre a maioria da população ¿ Santa Cruz, Beni, Tarija e Pando, região conhecida como Meia Lua ¿ pedem que o governo reconheça as autonomias departamentais que cada um deles aprovou em referendos que foram tidos como ilegais pelo governo central. O novo texto constitucional reconhece as autonomias no país, mas as divide em regionais, municipais e indígenas, dando poder a governos autônomos concebidos por líderes dessas quatro áreas.

Oposição

O prefeito de Santa Cruz, Rubén Costas ¿ considerado o líder da oposição ¿ pediu a Morales, na noite de domingo, um acordo "para preservar a unidade e um pacto para todos". Depois de líder de Tarija, Mario Cossío, ter declarado que o governo "não poderá aplicar a Constituição, pois se pede uma aliança nacional que permite pensar em um novo processo constituinte", o presidente boliviano respondeu com um "chamado aberto à oposição para todos trabalharem juntos para a implementação da nova Carta".

Diante de um país fragmentado, o mandatário proclamou na presença de milhares de seguidores, domingo à noite, "a refundação da Bolívia" e assegurou o término do "estado colonial" interno e externo.

¿ Graças à consciência do povo boliviano, se acabou o latifúndio e os latifundiários ¿ bradou.

Para o analista econômico Fernando Untoja, "do jeito como estão as coisas, o governo tem de renegociar a agenda política, porque o país não está apenas polarizado, mas também com duas maneiras de pensar que enquanto existirem o conflito será cada vez mais latente".

O governo dos EUA parabenizou a Bolívia pelo referendo que, em sua opinião, contribui para o processo democrático do país.