O Globo, 03 de abril de 2021, nº 32016, Economia, p. 19

 

Segunda onda da Covid-19 leva economistas a prever recessão

Henrique Gomes Batista

03 de abril de 2021

 

 

O pico da segunda onda da pandemia está derrubando ainda mais a expectativa para a economia este ano. No momento que a média diária de mortes por Covid-19 ultrapassa 3 mil, mais economistas estão prevendo nova recessão no início do ano, com dois trimestres seguidos de recuo do Produto Interno Bruto (PIB). Areação econômica este ano e em 2022 não será suficiente para o país se recuperar da recessão da Covid-19. Só em 2023, isso aconteceria. — Dada a evolução da pandemia e o ritmo lento de vacinação, o mais provável é que o país passe por uma recessão técnica no primeiro semestre.

—Enquanto a crise sanitária não for resolvida, não vai ter retomada robusta—diz Adriano Laureno, economista sênior da Prospectiva Consultoria. Carlos Kawall, diretor da ASA Investments, afirma que o recrudescimento da pandemia em março anulou o bom momento de janeiro e fevereiro. Ele estima queda de 0,5% do PIB no primeiro trimestre frente ao fim do ano e mais novo recuo de 2% no segundo trimestre. Prevê que o PIB de 2021 cresça 2,3% e 1,5% em 2022. O resultado dos dois anos não compensará aqueda de 4,1% do PIB em 2020:

— Não há cenário claro de controle da pandemia, há atrasos nas vacinas. Mesmo em países que estão vacinando mais rápido, como Chile, Reino Unido e EUA, avalia-se que é preciso ter distanciamento por mais tempo —diz Kawall, que lembra que, entre emergentes de maior peso, o Brasil é o único ater a expansão de 2021 revisada para baixo. Na pesquisa Focus, feita pelo Banco Central com instituições financeiras, a previsão para o PIB cai há quatro semanas. Está em 3,18%. Sílvia Matos, economista da FGV, classifica como “uma catástrofe” a situação atual:

—Se o país não crescesse nada este ano, mas mantivesse o ritmo de dezembro, teríamos alta do PIB de 3,6%, o chamado carregamento estatístico. Mas nossa previsão já está em 3,2%. Estamos desacelerando. Enrico Cozzolino, analista do Banco Daycoval, diz que faltam medidas para solucionar essa parada econômica:

— Seria um bom momento de uma sinalização forte de que as reformas (administrativa e tributária) estariam avançando. Mas não há clima, nem coalizão política.

MAIS RISCOS

Dívida pública em 90% do PIB, dúvidas sobre a viabilidade do Orçamento aprovado pelo Congresso, inflação prestes a superar 7% em 12 meses, juros em alta e ameaças às institucionais pioram a situação, lembra Sérgio Vale, da MB Associados, que também espera recessão:

— Temos o risco político de um governo que não tem funcionado há dois anos. Ninguém esperava que chegássemos a 4 mil mortos por dia. Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco, tem uma visão mais otimista:

— A pandemia tem um ciclo, vimos isso no Amazonas, no Reino Unido, nos EUA. Após bater um pico, o isolamento faz a transmissão cair. Acho que na segunda quinzena de abril teremos dados melhores nos hospitais. Isso deve favorecer a retomada.