Título: Um dia tenso, entre o otimismo e o medo
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2009, País, p. A6
BRASÍLIA
Às 14h de ontem, em seu ga- binete no Anexo IV, o deputado comunista Aldo Rebelo (SP) usava meticulosamente sobre a mesa uma grande faca afiada no corte do fumo do cigarro de palha que prepararia, em poucos minutos, para soltar em baforadas tranquilas. Murmurou em alguns segundos o que o olhar perdido nas torres do Congresso escondiam na reflexão: "É, acho que o Sarney ganha lá".
Àquele momento, a dezenas de metros dali, o senador petista Tião Viana (AC) reunia no gabinete a bancada do PT para fazer um balanço final, enquanto, a alguns quilômetros, o senador José Sarney (PMDB-AP), seu adversário, recebia em sua casa colegas para comemorar novas adesões; ao passo que, do outro lado da cidade, na casa do líder do PR, Luciano Castro (BA), o deputado Michel Temer (PMDB-SP) ciceroneava cerca de 30 deputados com não menos otimismo que Sarney.
Na véspera da eleição decisiva, o domingo dos quatro principais postulantes à presidências da Câmara e Senado não seria diferente, senão um misto de confiança exacerbada e temor discreto de traições sob o voto secreto. José Sarney e Tião Viana, que disputam o mando do Senado, e Michel Temer e Aldo Rebelo, os principais concorrentes na Câmara, passaram o dia em ligações e reuniões com aliados ou quase isso.
Ao fim do domingo, uma certeza: a idéia de um favoritismo apertado do PMDB nas duas Casas prevalece, embora a esperança de Aldo e Tião de que o quadro mude ainda permeie o sonho de ambos, coberto pelo manto de possíveis defecções contabilizadas. Não alterou nada, já temos entre 55 e 57 votos comentou um senador na residência de Sarney. A tropa de choque do peemedebista contou ontem com figuras como Renan Calheiros (AL) renascido das cinzas como novo líder do PMDB Romero Jucá (RR), Gim Argelo (PTB-DF), entre outros.
É nesse cenário de vitória que Aldo Rebelo vê chances de um revés contra Temer na Câmara. Se Sarney for eleito, há especulações de que deputados do PT e de outros partidos descontentes com o PMDB fortaleçam adversários de Temer. A avaliação de aliados de Aldo é que, se houver um segundo turno ali, Temer vence contra Ciro Nogueira (PP-PI), representante do baixo clero, mas corre sério risco de sucumbir num embate com o ex-presidente Aldo.
Mas Temer, em contínua campanha, blindou-se de todos os lados, comentou um parlamentar aliado. O Temer trabalha com "um piso" de 350 votos hoje. Isso, na pior hipótese. Ele acredita que pode conquistar 400. Depois do almoço, ele ainda visitou líderes de partidos. Trancado no Senado, Tião Viana buscou a acolhida dos senadores petistas. Não largou o telefone e fez força-tarefa com os colegas nas ligações, buscando dissidentes no PMDB.