Título: Domingo do PMDB tem festa antecipada
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2009, País, p. A6
Em almoços animados, Temer e Sarney, cada um em seu nicho, comemoram com aliados uma eventual vitória. Mas Aldo e Tião, principais adversários, apostam em surpresas hoje
A capital federal viveu ontem um domingo atípico, como há muito não se via. À paisana, muitos políticos foram aos gabinetes no Congresso para definir os últimos detalhes da disputa que se trava hoje na Câmara e no Senado, quando 513 deputados e 81 senadores escolhem seus novos presidentes e Mesas Diretoras para o próximo biênio. Depois de reuniões matinais, os favoritos deputado Michel Temer (SP) e senador José Sarney (AP), ambos do PMDB fizeram à tarde encontros para contabilizar seus votos. Eles garantem a aliados que vencem sem problemas, e os almoços de cada grupo foram vistos como uma festa antecipada embora arriscada da vitória do PMDB nas duas Casas.
O resultado, contudo, só será conhecido no fim da tarde de hoje, quando se encerrar a contagem de votos na Câmara, tradicionalmente a última a declarar seu presidente por contar com maior número de parlamentares votando. Os comandantes das duas Casas do Parlamento terão um peso especial no tabuleiro político nos dois últimos anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fatalmente marcados pela crise econômica e consequente necessidade do governo se mover com agilidade no Legislativo e pela luta em torno da primeira eleição desde a abertura política sem Lula como candidato.
A eleição começa às 10h, com a abertura da sessão especial nas duas Casas assim que cumprida a exigência de maioria absoluta de congressistas presentes no Senado e maioria simples na Câmara. Trata-se de uma exceção à regra. Normalmente, seria exigida maioria absoluta também na Câmara, mas reunião de líderes da Casa, ontem, decidiu que a eleição seria decidida apenas pela maioria dos presentes na sessão. O horário de votação também foi antecipado em duas horas para coincidir com o do Senado, o que foi visto pelos candidatos Ciro Nogueira (PP-PI) e Aldo Rebelo (PC do B-SP) como uma manobra para beneficiar Temer.
Tensão
Até a apuração dos votos, a tensão e a desconfiança com a possibilidade de traições tem permeado os corredores das duas Casas. Na Câmara, apesar da maioria declarada de Michel Temer, ontem o PT teve que se reunir para fazer uma declaração pública de que havia debelado um movimento dissidente dentro do partido e reafirmar em nota oficial seu apoio ao peemedebista, abalado desde a entrada de José Sarney no páreo do Senado. A decisão do senador José Sarney de lançar candidatura de última hora é um erro que não pode desestabilizar a candidatura do Michel.
As pessoas compreenderam que essas dissidências não têm nada a ver disse ontem o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS). A expectativa, entretanto, é que um resultado favorável a Sarney acabe influenciando a votação na Câmara contra Temer. É nessa perspectiva que se apoia a campanha de Ciro Nogueira que diz acreditar em uma surpresa no placar da votação para levar o processo eleitoral a um segundo turno.
No Senado, até ontem o grupo de articulação de José Sarney se preocupava com um possível desembarque do Palácio do Planalto na campanha do petista Tião Viana, mobilizado sobretudo pelo chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho.