Título: Diagnósticos divergentes no encerramento do FSM
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2009, País, p. A11

Encontro foi marcado por debates sobre a crise e críticas internas e externas

BELÉM

A maior reunião de ativistas de esquerda do mundo chegou ao fim ontem, após seis dias de discussões e manifestações que, segundo os participantes, reafirmaram a existência de uma alternativa ao abalado sistema capitalista global. Na tarde de ontem, a grande maioria dos participantes do fórum se encontraram para a "Assembléia das Assembléias". O encontro foi no palco da Universidade Federal Rural da Amazônia. Representantes de diferentes movimentos discursaram e fizeram uma avaliação sobre os temas discutidos durante o evento.

O Fórum Social Mundial deste ano atraiu cerca de 100 mil ativistas à cidade de Belém, desde comunistas protestando contra o "imperialismo" dos Estados Unidos até ambientalistas e socialistas moderados. Agendado para coincidir com o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, o evento deste ano recebeu um número recorde de chefes de governo, motivados para exibir suas credenciais de esquerda na esteira da crise financeira global.

O governo federal gastou cerca de 50 milhões de dólares no evento e trouxe uma dúzia de ministros de primeiro escalão. Outros quatro presidentes sul-americanos ­ Hugo Chávez, da Venezuela, Evo Morales, da Bolívia, Rafael Correa, do Equador e Fernando Lugo, do Paraguai ­ também compareceram e foram recebidos com animação pelos manifestantes. Curiosamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi convidado e não participou do painel que oficialmente trouxe os chefes de Estado vizinhos. Organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, o seminário sobre "integração popular" na América Latina foi realizado sem a presença de Lula, que teve que se contentar com atividades paralelas.

Em vez de tomar decisões vinculantes, o principal papel do Fórum é criar uma grande rede de contatos e a oportunidade de discussões entre os ativistas. A crise global foi um tema comum, e para muitos ela evidenciou que o capitalismo do livre mercado desregulado está em seus últimos passos. ­ O lado financeiro do mundo nunca foi a parte que realmente o movimentou.

O mundo é movido pelas pessoas ­ disse Luis Fabiano Celestrino, de 35 anos, auto-declarado "idealista" e membro do grupo vegetariano Revolução da Colher. ­ O Fórum Social Mundial mostra o que as pessoas estão pensando sobre os problemas mais básicos, e só ouvir propostas para resolvê-lo já vale a pena ­ acrescentou.

Críticas

Nem todo mundo que esteve em Belém, contudo, fazem diagnósticos tão animadores. Do lado de fora, moradores de áreas da periferia da capital paraense denunciaram que não lhes foi permitida a entrada no evento que traz como uma de suas principais a luta contra as desigualdades. Alguns ingressos do fórum chegam a custar R$ 30. Líderes comunitários também acusaram o governo estadual de "maquiar" superficialmente as regiões mais pobres da cidade e de impor a áreas com índices mais elevados de criminalidade rigorosos toques de recolher.

Do lado de dentro, alguns ativistas de renome do fórum também manifestaram "frustração" em relação ao resultado do encontro. O sociólogo e cientista político Emir Sader, por exemplo, criticou o excesso de organizações não-governamentais no evento e a falta de uma plataforma comum mais definida: ­ Há um certo sentimento de frustração em relação ao que o fórum poderia dizer ao mundo, mas parece que está girando em falso ­ criticou. ­ Onde estão as massas nas ruas mobilizadas pelas ONGs? Quem faz o Fórum são os movimentos populares. Elas (ONGs) têm lugar, mas o protagonismo tem que ser dos movimentos sociais ­ reclamou. (Com agências)