Título: Lula vai implantar uma versão da UPA
Autor: Victal, Renata
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2009, Cidade, p. A12

Entrevista : Oscar Berro

Lula vai implantar uma versão da UPA

Com 33 anos de profissão, o sanitarista Oscar Berro mostra confiança de que a grave crise na saúde está perto do fim. Ele, que dirige o Departamento de Gestão hospitalar do Ministério da Saúde no Rio, diz que, pela primeira vez, não há ninguém jogando no time contrário. Prova disso é que o governo federal se inspirou nas UPAs de Cabral e pretende inaugurar unidades Pré-Hospitalar Fixo.

O que é preciso fazer para me- lhorar as unidades de saúde?

­ Falta sedimentar a integração entre as unidades. E sem a vaidade de dizer que a unidade é federal, estadual ou municipal. A determinação do ministro Temporão é que não tenhamos nenhum leito fechado e que a gente modernize o parque tecnológico. É impossível ter em uso mesas para parto normal que foram produzidas na década de 40.

Só a integração entre as três esferas basta? ­

Não. Porque não adianta ima- ginar que se resolve o problema da saúde apenas com melhorias na saúde. Boa parte dos ingressos nos hospitais se dão por motivo que não são da saúde como a violência, acidentes de trânsito, saneamento básico. Hoje uma das maiores epidemias que temos no país todo é queda de laje. O indivíduo cai de três ou quatro metros com a cabeça no chão. Tenho UTIs ocupadas, em sua maioria, por queda de laje. A lei proíbe que andem de moto sem capacete, mas andam. Caem, batem com a cabeça e ocupam um leito. São hábitos que a sociedade tem e precisa mudar. Temos ainda de criar portas de saída. O paciente que estiver pronto para sair da UTI deve ir para um leito de retaguarda no município onde mora. Não faz sentido a família de um paciente de Varre-Sai ter de vir para o Rio por 30 dias para visita porque o paciente fez um transplante. Ele deve ser internado em um hospital próximo da sua casa.

Como fazer a integração? ­

Nenhuma unidade federal vai desenvolver nada sem parceiras com o estado e municípios. É uma vergonha que se tenha 30 pacientes fazendo hemodiálise no Hospital de Bonsucesso porque os municípios não oferecem local onde o paciente possa fazer diálise. Na sexta-feira estive reunido com o secretário municipal de Saúde do Rio, Hans Dohmann, e com o ministro da Saúde, Temporão. Tivemos diversas idéias. Não posso adiantar, mas garanto que a saúde vai dar um salto. Não tem ninguém jogando contra.

O senhor está dizendo que an- tes se jogava contra?

­O secretário Sérgio Arouca foi exonerado da prefeitura do Rio por um fax quando ele propôs que, para dar conta da saúde, era preciso ter 600 equipes da Saúde da Família. Se isso tivesse sido feito, o sistema hoje estaria regularizado. Estaríamos atendendo nas unidades federais, por exemplo, apenas as gestante de alto risco. O Cesar Maia optou por não implantar o Saúde da Família e demitiu o único secretário que tinha visão de saúde pública.

A atenção básica vai aumentar? Esta é uma das idéias? ­

Sim. Hoje, no Rio, menos de 6% da população tem atenção básica. O débil mental que disse que saúde se resolve com hospital não entende que as pessoas precisam ser tratadas o mais perto de casa. Teremos o Pré-Hospitalar Fixo, o mesmo que o governo estadual chama de UPA. São unidades 24h de pré-atendimento. O paciente vai ficar lá até 72 horas.