Título: Faltam médicos, sobram problemas
Autor: Victal, Renata
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2009, Cidade, p. A12
Sem ar condicionado ou elevadores, funcionários fazem o possível para dar bom atendimento
Renata Victal
Apenas um elevador do Hospital do Iaserj, no Centro, está em funcionamento. Nele, pacientes, comida, lixo e cadáveres dividem espaço. O quadro é estarrecedor. Infiltrações nas paredes, equipamentos em bom estado largados em salas fechadas, prontuários de pacientes largados no chão como se fossem lixo. O teto da antiga entrada da unidade desabou. Na sala de descanso dos médicos, colchões estão no chão porque o estrado das camas está quebrado. No pavilhão reinaugurado em setembro passado, ao custo de R$ 11,5 milhões, uma surpresa: as saídas de emergência levam ... ao esqueleto de um prédio abandonado.
A obra, da época de Chagas Freitas, seria para a expansão da unidade. Hoje, no entanto, o que resta por lá são entulho, focos de dengue e até mesmo uma cadeira de rodas abandonada. A situação não é exclusividade da unidade. Toda a rede pública, independente de ser da esfera federal, estadual ou municipal, passa pelo mesmo problema. E não apenas de estrutura. A falta de médicos, que na última semana levou ao fechamento da emergência do Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, é outro entrave.
No Pedro II, em Santa Cruz, o CTI pediátrico, inaugurado com pelo secretário Sérgio Côrtes há alguns meses, está fechado. Todos os equipamentos foram retirados porque não há médicos. Na emergência, pacientes são acomodados em macas nos corredores. Não há ar condicionado. Hellen Miyamoto, superintendente de Atenção Especializada da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil (Sesdec) do Rio, diz que, no prazo de um ano, a situação será diferente. Segundo ela, em um mês ficará pronto um estudo que promete causar uma reviravolta no sistema de saúde: todas as unidades serão reclassificadas. A idéia é que hospitais como Getúlio Vargas e Pedro II deixem de atender a todas as especialidades. Assim, como os demais da rede, serão centros de referência em determinadas especialidades.
O Getúlio Vargas, por exemplo, reunirá os neurocirurgiões. Já o Pedro II, os ortopedistas. Com o novo modelo, espera-se um ganho na qualidade. Modernizar um hospital como o Getúlio Vargas vai demorar 20 anos explica Hellen. É inviável. Nosso projeto rediscute todo o perfil da rede. Não dá para ter neurocirurgião em todos os hospitais. Vamos focar no Getúlio Vargas e no Adão Pereira Nunes. Todos os traumas devem ir para lá. Quem for atrás de dermatologista no Getúlio Vargas não vai encontrar. Não dá para, num mesmo hospital, a gente fazer reimplante e ter que atender gripe. A lógica, explica Hellen, foi negligenciada por mais de 20 anos.
Em quase toda a rede, como acontece no Pedro II, a maternidade é localizada no 10º andar, o que dificulta o acesso de grávidas quando elevadores apresentam problemas mecânicos ou por falta de luz. Não existia uma lógica na organização interna destes hospitais e estamos trabalhando nesta readequação. É importante também modernizar. Compramos 10 tomógrafos de última geração que fazem o mapeamento em sete segundos . Sabemos que não dá para ter um tomógrafo deste em um posto de saúde. Vamos inaugurar agora um aparelho de ressonância no Adão Pereira Nunes (Saracuruna), em Caxias. Serão locais de referência onde a população irá para tratar de problemas específicos. Sobre a falta de leitos em UTI, causa da morte de 129 pessoas que aguardavam na fila por um leito apenas nos 26 primeiros dias de janeiro como mostrou o JB de ontem, a promessa é aumentar a oferta.
O mesmo acontecerá com a estrutura das unidades. A secretaria de Saúde está licitando diversas melhorias. Só em equipamentos, foram gastos, em 2008, cerca de R$ 120 milhões. No Iaserj, ao menos um outro elevador, deve entrar em funcionamento nesta semana. Temos várias deficiências no serviço, mas estamos melhorando. A secretaria fazendo licitações conta Ewerton Martins, diretor de assistência do Iaserj: