O Globo, n. 32018, 05/04/2021, País, p. 6

 

Freixo articula chapa em 2022 com antigos adversários

Bernardo Mello

05/04/2021

 

 

Vislumbrando o apoio de antigos adversários, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) articula uma candidatura ao governo do Rio, em 2022, que inclua partidos além da esquerda, o que chama de “frente ampla para derrotar o bolsonarismo”. Ao GLOBO, o parlamentar disse já ter falado sobre o tema com oex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de conversar também com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM). Ambos estiveram em lados opostos ao do psolista nas duas últimas eleições que ele disputou para a prefeitura da capital, em 2012 e 2016.

Por ora, mesmo sem esconder o interesse de concorrer ao Palácio Guanabara, Freixo evita bater o martelo sobre sua candidatura. Em discurso semelhante ao da campanha de 2020, quando desistiu da corrida à sucessão de Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio após ter dificuldades para aglutinar outras siglas de esquerda, o deputado afirma só estar disposto a tentar o governo caso seja formada uma união de diferentes forças “para ganhar”. Caso contrário, planeja tentar novo mandato na Câmara—ele foi escolhido, no último mês, como novo líder da Minoria na Casa.

—Já fui procurado por várias forças. Acho ótimo que possamos abrir este debate com antecedência, pelo tamanho da responsabilidade que o Rio exigirá. O próprio Rodrigo (Maia) falou sobre o interesse em me apoiar, se for numa frente ampla com capacidade de reunir forças —afirmou.

Maia deve deixar o DEM até o início de 2022 e tende a se filiar ao MDB, hoje presidido no Estado do Rio pelo exdeputado Leonardo Picciani. Em um primeiro momento, Paes não deve migrar de partido.

Além de PT e PDT, cujas lideranças fluminenses mantêm boa relação entre si e com Freixo, outra sigla no radar de uma aliança anti-bolsonarista é o PSDB, que vem cortejando o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.

A eventual aliança seria um passo inédito no PSOL, que apenas em 2020 autorizou seus diretórios locais a fazerem chapas com a centro-esquerda — antes, os acordos tinham que ser avaliados caso a caso pela direção nacional —e nunca se aliou a siglas de centro no primeiro turno. De olho em possíveis resistências no PSOL, lideranças petistas e pedetistas já sondaram Freixo sobre uma possível filiação. Ele afirma, porém, que debaterá internamente no partido a respeito de uma aliança ampla no Rio, e cita a resolução do mês passado em que o PSOL trata de um possível apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.

—Se o PSOL indicou possibilidade de apoiar o Lula, que deve buscar um leque amplo de alianças, não faz sentido não costurar isso no Rio também. O primeiro momento é entender os limites do partido. Mas defendo que a frente ampla é condição para a minha candidatura e também para vencer Bolsonaro, o que vai além dos limites de qualquer partido —diz Freixo.

LULA E CIRO NO PALANQUE

Por defender a costura de uma aliança nacional e estadual, um empecilho dentro da esquerda para a união desejada por Freixo é a rivalidade entre Lula e Ciro Gomes, presidenciável do PDT, que vêm trocando farpas publicamente. Interlocutor de Lula e de Ciro, com quem diz manter boa relação, Freixo vêm estimulando que ambos conversem novamente, a exemplo do encontro que tiveram antes de o petista recuperar sua elegibilidade, em 2020.

Por outro lado, aliados apostam que uma aliança em torno de Freixo não dependeria de acordo nacional entre os partidos. Nesse caso, uma eventual candidatura de Freixo ao governo daria palanque a Ciro e a Lula, a exemplo do que ocorreu em 2018 no Ceará onde o governador Camilo Santana (PT), correligionário de Fernando Haddad, também fez campanha para Ciro, seu aliado.