Correio Braziliense, n. 21.136, 07/04/2021. Brasil, p. 5

 

A guerra da Covid no país 4.195 mortos em apenas 24 horas 5.798 óbitos de profissionais da saúde

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim  

07/04/2021

 

 

Às vésperas do Dia Mundial da Saúde, números mostram uma pandemia que somente se agrava e que a vacinação não consegue deter

Sistema de saúde colapsado, filas por leitos de unidade de terapia intensiva (UTI), profissionais de saúde exaustos e recordes sucessivos de óbitos por covid-19 que chamam a atenção das autoridades internacionais. O Brasil chega ao Dia Mundial da Saúde, celebrado hoje, com 4.195 mortos pelo novo coronavírus em apenas 24 horas, de acordo com os dados recolhidos pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), totalizando 336.947 óbitos. Outro retrato do caos é o levantamento da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), feito com os cartórios de registro civil, que mostra que, desde o começo da pandemia, 5.798 profissionais de saúde perderam a vida — 25,9% a mais do que em 2019 e, se comparados apenas os dois primeiros meses de 2021, 29% maior que o mesmo período do ano passado.

"Na última semana epidemiológica, observou-se um novo aumento da taxa de letalidade, de 3,3% para 4,2%, o que pode ser consequência da falta de capacidade de se diagnosticar correta e oportunamente os casos graves, somado à sobrecarga dos hospitais, num processo que vem sendo apontado como o colapso do sistema de saúde, não somente de hospitais. Esse indicador se encontrava em torno de 2% no final de 2020", explicou o último boletim Observatório Covid-19 BR, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado ontem.

O levantamento indica, ainda, não ser possível esperar uma diminuição de mortes a curto prazo. Isso porque o nível crítico de capacidade das UTIs se mantém estável e 20 das 27 unidades da Federação estão com taxas de ocupação de vagas de terapia intensiva superiores a 90%. "Não se pode negligenciar a gravidade do quadro de saturação do sistema de saúde para resposta à elevadíssima demanda colocada pelo número excessivo de casos de covid-19 em praticamente todo o país", alertou a pesquisa da Fiocruz.

De acordo com os números colhidos pelo Conass, o país chegou aos 13.100.580 casos de covid-19, sendo que 86.979 foram registrados apenas entre segunda-feira e ontem.

 

Profissionais atingidos
O aprofundamento da crise sanitária no Brasil vem afetando pesadamente também os profissionais de saúde. Segundo o Portal da Transparência do Registro Civil, nem todos morreram diretamente por terem contraído a covid-19, mas de causas associadas à doença, como os efeitos do estresse. Caso se mantenha a tendência observada nos dois primeiros meses de 2021 — que apresentou um acréscimo de óbitos 29% maior que o mesmo período do ano passado —, aproximadamente 8 mil trabalhadores do setor podem perder a vida até o final do ano.

Os estados mais afetados pela perda de profissionais foram Rio de Janeiro (1.596), São Paulo (1.563), Paraná (692), Bahia (497), Rio Grande do Sul (481) e Minas Gerais (346). Já as mortes cuja causa foi a Covid-19 totalizaram 1.411 até fevereiro de 2021 — o Rio de Janeiro foi o mais atingido, com 396 óbitos.

Uma pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM) indica que 96% dos médicos perceberam o aumento do nível de estresse como o principal impacto da pandemia por 22,9% dos entrevistados. "Toda vez que nós temos um sistema colapsado, aumenta a incidência de infecções. É importante a sociedade demonstrar toda a preocupação pelos profissionais, porque estão dando a vida por nós", frisou o vice-presidente do CFM, Donizetti Dimer.