Correio Braziliense, n. 21.137, 08/04/2021. Política, p. 5

 

Não dá para chorar o leite derramado, diz Bolsonaro

Ingrid Soares

Israel Medeiros 

08/04/2021

 

 

O presidente Jair Bolsonaro voltou a desdenhar, ontem, das mortes provocadas pela covid-19, um dia depois de o Brasil ter alcançado a marca de 4.195 óbitos pela infecção do novo coronavírus — o país registrou, somente nas últimas 24 horas, 3.829 mortes e totalizou 340.776 óbitos causados pela covid-19. Ele disse que não adianta “chorar o leite derramado”, durante a cerimônia de posse do novo diretor-geral Brasileiro da Itaipu Binacional, João Francisco Ferreira.

“Não vamos chorar o leite derramado. Estamos passando ainda por uma pandemia que, em parte, é usada politicamente. Não para derrotar o vírus, mas para tentar derrubar o presidente. Todos nós somos responsáveis pelo que acontece no Brasil. Em qual país do mundo não morre gente? Infelizmente, morre gente em tudo que é lugar. Queremos é minimizar esse problema”, justificou-se.

Horas antes, em Chapecó (SC), Bolsonaro voltou a se manifestar contra a possibilidade de um lockdown nacional por conta dos altos números da pandemia. Segundo o presidente, a população não deve abrir mão da liberdade em troca de segurança, correndo o risco de ficar sem os dois futuramente.

“Seria muito mais fácil atender e fazer, como alguns querem, da minha parte, porque eu posso, um lockdown nacional. Não vai ter lockdown nacional, como alguns ousam dizer por aí que as Forças Armadas deveriam ajudar seus governadores nas suas medidas restritivas. O nosso Exército brasileiro não vai às ruas para manter o povo dentro de casa, a liberdade não tem preço”, disse, em Chapecó.

De acordo com Bolsonaro, por causa da defesa feita pelo prefeito do João Rodrigues do chamado “tratamento precoce” — que inclui medicamento sem efeito comprovado contra a covid-19, como a cloroquina e ivermectina —, ele acredita que a cidade catarinense é modelo para o país. Entretanto, Chapecó aderiu ao lockdown por 14 dias e às medidas de distanciamento social e adotou o uso de máscara e do álcool em gel.

“O tratamento off label, fora da bula, é um direito, é um dever do médico. Ele tem que buscar uma alternativa. Ou até mesmo, se um paciente tem uma certa doença e não tem aquele remédio específico, comprovado cientificamente, ele tem que buscar uma alternativa”, explicou, acrescentando que não tem nenhum interesse nas próximas eleições gerais, em 2022. “Estou me lixando para 2022”.

À noite, Bolsonaro particpou de um jantar com empresários, em São Paulo. O encontro, na casa de Washington Cinel, fundador da Gocil, uma das maiores empresas de segurança do Brasil, versou sobre vacinação, reformas e compromisso com o teto de gastos.

“Aqui só tem patriotas contribuintes, que têm interesse que o Brasil continue crescendo. O recado foi muito claro: eles estão muito satisfeitos com esse novo Congresso, com os presidentes Arthur (Lira) e Rodrigo Pacheco trabalhando em sintonia total com o presidente. Eles apoiam tanto o presidente quanto os nossos ministros, que têm feito um trabalho importante. Então o recado foi esse. No que depender deles, o governo vai poder contar com ajuda”, dsisse o ministro das Comunicações, Fabio Faria, negando que tivesse havido cobrança dos empresários para acelerar a vacinação.

Além de Faria, estiveram presentes o ministro da Economia, Paulo Guedes; da Saúde, Marcelo Queiroga; da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, além de empresários como André Esteves (BTG), Candido Pinheiro (Hapvida), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco) e Flávio Rocha (Guararapes), entre outros.