O Globo, n. 32022, 09/04/2021, Mundo, p. 23

 

Biden afaga Argentina e põe em evidência diferença com o Brasil

09/04/2021

 

 

Na última sexta-feira, o chanceler da Argentina, Felipe Solá, conversou por 55 minutos com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, que se colocou à disposição da Casa Rosada para ajudar o país em sua recém anunciada segunda onda da pandemia. Ontem, o almirante Craig Faller, chefe do Comando Sul dos EUA, confirmou ao ministro da Defesa argentino, Agustín Rossi, a doação de três hospitais de campanha pelo governo Biden. O encontro entre ambos aconteceu em Buenos Aires, para onde viajará, na próxima semana, o diretor sênior para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional americano, Juan González.

Depois de ter sido um dos primeiros presidentes latino americanos para quem Biden telefonou após confirmada sua vitória, em 2020, o chefe de Estado argentino, Alberto Fernández, tem recebido gestos de solidariedade da Casa Branca que contrastam coma friez ado relacionamento entreEUA e Brasil. Em termos de pandemia, os números são expressivamente mais assustadores no Brasil do que no país vizinho, mas até hoje não houve uma comunicação direta entre Biden e Bolsonaro. Na campanha eleitoral do ano passado nos EUA, o governo argentino ficou em silêncio.

A boa sintonia atual entre os dois governos gera expectativas. Na conversa entre Blinken eS olá, na semana passada, o secretário de Estado americano se comprometeu a liberara exportação de insumos necessários, incluindo frascos, para que os governos argentino e mexicano possam produzirem conjunto a vacina da AstraZeneca. Solá pediu, ainda, que os EUA enviem à Argentina doses da AstraZeneca não usadas pelo pais.

—Hoje, Biden não encontra um ator de peso relativo na região anão sera Argentina, que, apesar das turbulências, tem uma política externa que não contradiz os EUA em temas essenciais — diz Juan Gabriel Tokatlián, vice-reitor da Universidade Torcuato Di Tella.

CHINA E 5G NA PAUTA

Para ele, “a proximidade entre EUA e Argentina está diretamente relacionada à situação atual do Brasil”.

— O vazio deixado pelo Brasil leva os EUA de Biden a olharem com mais atenção para a Argentina.

O governo americano tem interesses centrais em sua agenda coma Argentina: China ,5 G e, num aposição menos relevante na pauta bilateral, a situação na Venezuela. A disputa coma China por influência na região é uma das questões que mais interessam a Washington. A sintonia coma Argentina é grande e tem funcionado. Na visão do analista político Fabián Calle,“aalakirchnerista do governo tem fortes vínculos com China, Rússia e Cuba”, e o governo Biden quer ver até que ponto pode trabalhar com Fernández.

— O governo Biden fará uma ofensiva forte contra China e Rússia na região, e Argentina e Brasil estão na equação. O vínculo com Bolsonaro é mais complicado e para os democratas, sobretudo os mais progressistas, é esteticamente mais conveniente dar-se bem coma Argentina—explica.