Correio Braziliense, n. 21.139, 10/04/2021. Cidades, p. 15
Polícia investiga fura-fila no Entorno
Samara Schwingel
10/04/2021
Duas funcionárias da Secretaria Municipal de Saúde de Luziânia (GO) são alvos de uma operação da Polícia Civil de Goiás. Segundo investigações, elas teriam montado um esquema para facilitar que pessoas furassem a fila da vacinação contra a covid-19. Os investigadores acreditam que, pelo menos, 17 pessoas receberam doses dos imunizantes de forma irregular por meio do esquema. As servidoras foram exoneradas dos cargos.
Ontem, o Grupo Especial de Repressão a Crimes Patrimoniais (Gepatri) de Luziânia deflagrou a Operação Cura. Com autorização da Justiça, os agentes cumpriram mandados de busca e apreensão nas residências de uma servidora da parte administrativa e de outra que trabalhava aplicando as doses. Foram apreendidos celulares e uma lista com nomes de pessoas.
Durante interrogatório, uma delas confessou e contou como funcionava o esquema. Em Luziânia, as pessoas podem se cadastrar para receber as doses remanescentes das vacinas, conhecidas como xepa. As funcionárias escolhiam pessoas a serem vacinadas com as doses que sobravam ao fim do expediente, não seguindo a lista de cadastro reserva e não cumprindo os requisitos para receberem as vacinas.
"Foram apreendidos objetos que vão nos ajudar a esclarecer os motivos pelos quais essas profissionais de saúde realizaram essas irregularidades. As investigações seguem para identificar possíveis outras pessoas envolvidas", explicou o delegado Carlos Alfama. Havia duas formas de atuação. Uma, as doses eram aplicadas em pacientes fora do atual público-alvo, mas registradas no sistema da unidade de saúde. Outra, a vacina era irregularmente aplicada, mas não registrada no sistema.
Os nomes das investigadas não foram divulgados, assim como os de outros possíveis envolvidos. Caso sejam condenadas, elas poderão receber pena de mais de 13 anos de prisão, pelos crimes de peculato-desvio e de infração de medida sanitária preventiva majorada. Os indivíduos que foram vacinados irregularmente também podem responder pelo crime de associação criminosa, caso seja comprovado que sabiam que estavam sendo favorecidos indevidamente ao serem vacinados mesmo sem preencher os requisitos estabelecidos pela campanha de vacinação naquele momento.
A Secretaria Municipal de Saúde e a Prefeitura de Luziânia informam que estão prestando todo o apoio à Polícia Civil na investigação das duas profissionais de saúde envolvidas no esquema. Segundo nota da pasta, as mulheres não eram servidoras efetivas e foram descredenciadas do quadro de prestadores de serviços assim que o caso foi descoberto. A secretaria ainda "lamenta profundamente o ato praticado e toma todas as providências para que o suposto crime não volte a ocorrer".