Correio Braziliense, n. 21.140, 11/04/2021. Opinião, p. 11

 

Sacha Calmon: A peste da besta

Sacha Calmon

11/04/2021

 

 

Marina Falcão nos informa: "A taxa de transmissão do coronavírus no Brasil aumentou para 1,23 , com crescimento exponencial nas últimas semanas, de acordo com dado divulgado pelo Imperial College, de Londres. No relatório anterior, publicado há 15 dias, a multiplicação do vírus no país estava em 1,13. A mudança causa grandes efeitos na curva epidêmica, pois a taxa de reprodução (R) em 1,23 significa que cada 100 pessoas com covid-19 contaminam mais 123. O indicador aparece acima do de países como Argentina (0,89) e México (0,86). No Reino Unido, onde a vacinação está em ritmo acelerado, o indicador está em 0,73. Somente quando o R fica abaixo de um é possível afirmar que a pandemia está em remissão.

Professor do Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo, Paulo Inácio Prado, do Observatório Covid-19 BR, pondera que o cálculo de uma única taxa de reprodução para todo o país é "problemático". Mesmo assim, ele alerta que se verifica hoje um aumento muito acelerado de casos, hospitalizações e óbitos na maioria dos Estados. "A situação é de emergência extrema, e lockdowns deveriam ser considerados com mais seriedade."

O Observatório Covid1-9 BR faz o cálculo do R em separado para cada estado, baseado em dados divulgados pelo Ministério da Saúde. As mais recentes informações referentes à semana epidemiológica, encerrada em 6 de março, mostram sinais de alerta em estados como Maranhão e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal.

Acontece que os dados de abril tornaram obsoletos os índices acima. No dia 6 de abril, morreram 4.195 brasileiros em 24 horas, fora as subnotificações. Há a hipótese de que, no Brasil remoto, estejam morrendo 6 a 7 mil pessoas por dia, sem notificações.

O governador de Minas, Romeu Zema (Novo), colocou todo o estado na onda roxa, que é a fase mais restritiva, para tentar conter o avanço de casos de covid-19. "Estamos, sim, correndo atrás de cinco vacinas: Pfizer, AstraZeneca, Janssen e CoronaVac, que já foram aprovadas pela Anvisa, e Sputnik. Se esses laboratórios fornecerem para estados e municípios, a vacina vai chegar para Minas Gerais", afirmou Zema.

O governador disse que 20 milhões de doses seriam suficientes para imunizar o restante da população do estado que ainda não recebeu doses significativas da vacina. "Quero declarar que o povo mineiro pode dormir tranquilo (...); tudo que está ao nosso alcance para a compra de vacina está sendo feito. A vacina vai chegar ou pelo Ministério da Saúde, ou por compra nossa." Fez mais, o fechamento do comércio não essencial e a adoção do toque de recolher das 20h às 5h. E "o policiamento será reforçado principalmente à noite. Quem circular pelas ruas precisa justificar o motivo de estar fora de casa". Pois, sim, conversa para boi dormir.

A situação no Brasil está péssima. Teremos uma verdadeira matança, e a culpa é do presidente. Basta ler os jornais. A Justiça Federal em Brasília considerou inconstitucional a lei que obriga a doação ao Sistema Único de Saúde de 100% de vacinas compradas por empresas ou outras instituições, enquanto todos os grupos considerados prioritários não forem vacinados. Os governos federal e estaduais até hoje não vacinaram nem 15% da população! O juiz federal de Brasília Rolando Spanholo entendeu que a exigência da doação, incluída na lei, é inconstitucional, aceitando a argumentação do Sindicato dos Delegados de Polícia de São Paulo, de que a vedação viola o direito fundamental à saúde ao atrasar a imunização. Todas as empresas, farmácias e hospitais têm o direito de buscar vacinas para protegerem o Brasil, como nos EUA se fez!

Paulo Guedes fez "convocação" ao setor empresarial. "Se os empresários comprarem vacinas, o país poderá "dobrar" a quantidade de doses já contratadas pelo governo (500 milhões) ". Esse é um número doido, cabalístico, biruta! Mas não avaliou a compra, sem doação, pelos empresários.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ao lado do ministro da Educação, Milton Ribeiro, e do secretário de Saúde de São Paulo, Jean Carlo Gorinchteyn, voltou a afirmar que é necessário a união de todos "com base na ciência e no humanismo" para lidar com os problemas causados pela pandemia da covid. Mas entregar ao SUS as vacinas é loucura rematada. Coisa de país fascista. Do SUS cuide o governo. Todos os brasileiros contribuem para o INSS/SUS, mensalmente.

Obrigar os mais aptos a doar ao governo central inepto as vacinas compradas foi um erro brutal. É preciso acabar com isso. Se não fosse o Butantan de São Paulo, o Brasil estaria rastejando como cobra cascavel (veneno em vez de antídoto).