Correio Braziliense, n. 21.141, 12/04/2021. Política, p. 3

 

“Vai sobrar só para mim”, diz Bolsonaro

12/04/2021

 

 

O presidente Jair Bolsonaro deu mostras, ontem, do quanto a CPI da Covid — que pretende apurar as ações do governo durante a andemia — o assusta. Uma conversa por telefone entre ele e o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) vazou e mostra o presidente pressionando o parlamentar a ampliar o alvo das investigações, para que inclua governadores e prefeitos. O senador goiano foi um dos signatários do pedido de instalação da comissão de inquérito aceito pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal.

"Se não mudar a amplitude, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello, ouvir gente nossa, para fazer um relatório sacana. Tem que fazer do limão uma limonada. Por enquanto, é um limão que está aí. Dá para ser uma limonada", cobrou Bolsonaro do senador.

O presidente reclamou, ainda, que será foco das diligências. "A CPI hoje é para investigar omissões do presidente Jair Bolsonaro, ponto final. Quer fazer uma investigação completa? Se não mudar o objetivo da CPI, ela vai vir só para cima de mim", afirmou.

Segundo Kajuru, a conversa com Bolsonaro foi feita no último sábado. "O que tem que fazer para ser uma CPI que realmente seja útil para o Brasil? Mudar a amplitude dela. Bota governadores e prefeitos. Presidente da República, governadores e prefeitos", exigiu o presidente.

Em um momento da ligação, o presidente pressiona o parlamentar para ingressar com pedidos de impeachment contra ministros do STF como forma de intimidar a mais alta corte do país. "Tem de peticionar o Supremo para colocar em pauta o impeachment (de ministros) também. Nós dois estamos afinados. CPI ampla e investigar ministros do Supremo. Ponto final", decretou ao senador.

Na ligação, Bolsonaro também atribuiu o número de mortes da covid-19 à suposta omissão de prefeitos e governadores, ignorando que ele mesmo boicota medidas que dão certo contra o vírus, como o distanciamento social e o uso de máscaras. "A questão do vírus... Não vai deixar de morrer gente, infelizmente, no Brasil. Poderia morrer menos gente se os governadores e prefeitos que pegassem recursos e os aplicassem realmente em postos de saúde, hospital", afirmou Bolsonaro. (DR e RS)