O Globo, n. 32024, 11/04/2021, Rio, p. 16

 

Paes diz que atingiu 76% das metas para cem dias

Lívia Breves

Luiz Ernesto Magalhães

11/04/2021

 

 

Ao apresentar o balanço de seus primeiros cem dias de governo, completados ontem, o prefeito Eduardo Paes disse que cumpriu 76% das metas anunciadas para esse período. Na área da Saúde, tão afetada pela pandemia, ele comemorou ter conseguido reabastecer a rede com insumos e preparar os postos de vacinação para a imunização contra a Covid-19, bem como desenvolver o portal que dá mais transparência à fila por consultas, exames e cirurgias. Por outro lado, Paes admite não ter conseguido completar todas equipes das clínicas da família, assim como não contratou mais profissionais para melhorar o programa de saúde bucal. Esses dois projetos sofreram muitos cortes durante a gestão de seu antecessor, Marcelo Crivella, como forma de reduzir gastos públicos.

— A implantação dessas clínicas exige recursos. A pandemia da Covid-19 nos consome tempo e foi priorizada. Nossa nota foi 7,6 — justificou Paes.

A referência adotada para fazer o balanço foi um decreto publicado no dia 1º de janeiro em que Paes listou 25 prioridades para os cem primeiros dias de sua gestão. O prefeito, no entanto, desmembrou parte das metas e criou 30 indicadores. Paes entende que cumpriu a promessa de apresentar o Plano BRT com Dignidade, embora a prefeitura ainda deva demorar dois anos para concluir um novo processo de licitação do sistema, que sofre coma superlotação. Ao dizer que encontrou acidade destruída, ele usou a imagem de uma estação de BRT vandalizada (46 estão fechadas por falta de segurança ou porque foram saqueadas ), cuja manutenção era de responsabilidade da concessionária. Segundo ele, o próximo passo rumo à melhoria do transporte é abrir um procedimento para cassar a concessão do BRT, que está sob intervenção do município. Mas até agora as estações não ganharam câmeras de vigilância, como estava previsto. —Empurrar com abarriga foi a especialidade do exprefeito Marcello Crivella. Problemas que vão desde a mobilidade urbana e retrocessos na área de Saúde ao processo de encampação da Linha Amarela mostram que o caos se instalou. Houve uma doentia relação de política com religião —atacou Eduardo Paes.

MUDANÇAS NO TRANSBRASIL

Na relação das promessas cumpridas está a divulgação, que aconteceu na semana passada, de um novo plano para o BRT Transbrasil, ainda em obras. Em lugar de chegar ao Centro, como previsto no projeto original, uma das pontas da linha permanecerá no Caju, em frente ao Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into). Mas será implantada uma conexão com o VLT, cuja linha será estendida até o antigo Gasômetro.

Na área financeira, Paes voltou a dizer que herdou uma dívida de mais de R$ 5 bilhões com fornecedores em restos a pagar. Segundo ele, essas faturas só começarão a ser quitadas depois que forem auditadas. Nas últimas semanas, prestadores de serviços fizeram protestos porque não conseguem receber faturas em atraso. Entre eles, empresas que cuidam da operação e da manutenção dos tomógrafos computadorizados comprados em 2020.

— Os serviços prestados na nossa gestão estão em dia. Mas dívidas anteriores serão objeto de apuração rigorosa. No governo passado, isso motivou o escândalo do “QG das Propina” (em que o Ministério Público acusou o então prefeito de chefiar um esquema de pagamento de faturas atrasadas em troca de vantagens financeiras) —disse Paes.

O prefeito também lembrou que teve que arcar com parte da folha de pagamento do13º de 2020 eque quitaria o compromisso ainda este ano. Mas até agora só quem recebeu foram os servidores que ganham até R$ 4 mil. A prefeitura escalonou o pagamento de quem recebe acima desse valor em 12 faixas. Os pagamentos começam em julho (para quem tem salário de até R$ 4,7 mil) e terminam em junho de 2022 (para aqueles com vencimentos acima de R$ 20 mil).

—Por outro lado, a prefeitura vai voltar a adiantar, no meio do ano, o 13º de todos os servidores. O saldo do 13º de 2020 que ficará para 2022 corresponde apenas a 20% da dívida — disse o secretário municipal de Fazenda e Planejamento, Pedro Paulo Carvalho. Entre as promessas não cumpridas, está a de revisar os aumentos de IPTU para os moradores das zonas Norte e Oeste em 2017 e durante o projeto Atualiza Rio (de revisão de cadastros), este último implementado por Paes em seu segundo mandato (20132016). O prefeito disse que vai enviar o texto com as mudanças até o fim do ano para a Câmara dos Vereadores.

CICLOVIA PARADA NA JUSTIÇA

Também citado na lista de prioridades, o futuro da ciclovia Tim Maia, no trecho da Avenida Niemeyer, ainda está indefinido. A recuperação da estrutura custaria entre R$ 2,5 milhões e R$ 3 milhões, segundo o prefeito, mas há pendências judiciais que impediram a realização de uma consulta pública à população para decidir o que fazer. Por isso, Paes considera que essa promessa está entre aquelas que foram parcialmente cumpridas. Procurado pelo GLOBO , o ex-prefeito Marcelo Crivella não retornou os pedidos de entrevista para comentar as críticas feitas por Paes.