O Globo, n. 32025, 12/04/2021, Mundo, p. 22

 

Peru vota em meio a apatia e onda de Covid

Lima

12/04/2021

 

 

Em meio a preocupações com uma feroz segunda ondada pandemia e a uma vasta apatia da população, o Peru realizou o primeiro turno de suas eleições presidenciais ontem, com os 18 candidatos se esforçando para chamara atenção entre uma multidão de concorrentes.

Na boca de urna, considerada pouco confiável e divulgada pelo instituto Ipsos logo após o fechamento das urnas, cinco candidatos apareciam com chances de seguir para o segundo turno: o de extrema esquerda Pedro Castillo aparecia em primeiro, com 16,1%, seguido pelos conservadores Hernando de Soto e Keiko Fujimori, ambos com 11,9%. O ex-congressista da Ação Pupular Yohni Lescano tinha 11% e o empresário de extrema direita Rafael Ló pez Aliaga, que é comparado a Jair Bolsonaro, tinha 10,5%. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou menos.

Os primeiros resultados oficiais, no entanto, só seriam divulgados ao longo da madrugada, e podem demorar dias para serem confirmados caso a margem seja muito pequena.

No começo do dia, longas filasse formaram no lado de fora de alguns postos de votação, formadas sobretudo por pessoas idosas, que receberam a recomendação de votar cedo para evitar aglomerações. Os 25,2 milhões de eleitores aptos a votar foram instruídos a usarem máscaras para evitara disseminação da Covid-19 e a levarem as próprias canetas. O Peru registrou 384 mortes pela doença no sábado, um recorde diário para o país.

Alguns colégios eleitorais não puderam abrir as urnas na hora certa porque os mesários tinham faltado. Em Lima, as ausências foram mais frequentes em bairros de classe média alta da Zona Oeste, como Lima, San Isidro e Surco. Em alguns bairros de San Isidro, segundo o jornal La Republica, só 20% das mesas eleitorais previstas puderam ser instaladas na hora. Após um apelo por mais voluntários, quase todos estavam funcionando no meio da tarde.

Candidatos de polos opostos do espectro político ficaram embolados por semanas nas pesquisas: em primeiro lugar em várias delas estava Soto, um economista liberal quase octogenário que fez parte do governo de Alberto Fujimori. Também na direita, Keiko Fujimori, filha do ex-presidente acusada de corrupção, aparecia com chances de avançar.

Do outro lado, o sindicalista e professor Pedro Castillo, que lidera o partido Peru Livre, propõe nova Constituição e que tem, em seu círculo próximo, defensores do regime norte-coreano, havia subido nas pesquisas das últimas semanas Mais moderada, mas também à esquerda, a antropóloga Veronika Mendoza, de 40 anos, que tem como proposta expandir o papel do Estado na economia, parecia ter perdido força no domingo.

Em meio a tantos candidatos, não havia favoritos. Nas últimas pesquisas antes da eleição, nenhum candidato ultrapassava 13% das intenções, e o voto nulo era a opção preferida na maioria das pesquisas. A apatia predomina após a crise política vivida nos últimos anos e o rápido impeachment do popular presidente Martín Vizcarra em novembro, que não tinha apoio do Congresso. Para angariar apoio logo antes da ida às urnas, os candidatos buscaram obter visibilidade ao longo do dia, e os abundantes cafés da manhã com apoiadores, tradição local, foram mantidos. Na região de Cajamarca, no Norte do Peru, Castil o chego upara votar montado num cavalo. Entre seus eleitores estava Juana Rivera, uma ambulante de Lima.

—Vou votar no Castillo porque ele disse que aumentará o salário dos professores e da polícia —disse ela.