Título: Líder religioso é condenado
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/03/2005, Internacional, p. A8

Austrália e EUA reclamam de pena branda para suspeito de atos terroristas

JACARTA - O líder religioso indonésio Abu Bakar Bashir foi condenado ontem a dois anos e meio de prisão por participação no atentado em Bali, balneário indonésio, que deixou 202 mortos em 12 de outubro de 2002. Os juízes consideraram que Bashir não organizou o ataque contra o Hotel Marriot de Jacarta em 2003.

A sentença foi recebida com festa pelos partidários de Bashir reunidos na sala de audiências. A promotoria havia pedido uma pena de oito anos de cadeia para o líder islamita de 66 anos, que poderia ser condenado até a pena de morte.

- O painel de cinco juízes chegou à conclusão de que ficou comprovado de forma legal e convincente que o acusado esteve envolvido em uma conspiração funesta que levou à morte de outras pessoas - declarou o presidente do tribunal, Suharto.

Bashir, no entanto, foi absolvido da acusação de ter organizado - da prisão - o ataque contra o Hotel Marriott, que deixou 12 mortos em agosto de 2003.

- Acredito que fui condenado arbitrariamente. É impossível aceitar isso e, portanto, apelarei - disse o líder indonésio, em árabe, depois de anunciada a sentença. - Se trata claramente de um ato de tirania.

Ao longo do julgamento, iniciado em 28 de outubro de 2004, a promotoria teve dificuldades para explicar o papel do islamita nos atentados. Bashir já havia sido inocentado no ano passado da acusação de dirigir a rede islamita regional Jemaah Islamiyah (JI) que, segundo os EUA, tem ligações com a Al Qaeda e pretende formar um grande Estado religioso muçulmano no Sudeste da Ásia.

Supostos membros da JI detidos sem julgamento na Malásia são acusados de ajudar pelo menos dois seqüestradores que atuaram nos atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos.

A sentença por conspiração teve por base a alegação de que Amrozi Bin Nurhasym, que foi condenado junto com outros 35 militantes pelo atentado em Bali, visitou Bashir três meses antes do ataque, para pedir a bênção do líder religioso. Amrozi não testemunhou no julgamento, mas os juízes tomaram a decisão por uma gravação.

''Eu deixo a vocês decidir'', disse o líder religioso ao saber que Amrozi e seus cúmplices haviam planejado um ''programa'' em Bali.

A Austrália, que perdeu 88 cidadãos no atentado de Bali, protestou da decisão.

- É decepcionante que a pena seja de apenas dois anos e meio - declarou o ministro das Relações Exteriores australiano, Alexander Downer.

Washington também reclamou da sentença.

- Respeitamos a independência e o julgamento da Justiça indonésia, mas ficamos desapontados com a sentença - disse Max Kwak, porta-voz da embaixada americana em Jacarta.