O Globo, n. 32026, 13/04/2021, País, p. 8

 

Aliados de Maia articulam sua permanência no DEM

Bernardo Mello

Marcelo Remigio

13/04/2021

 

 

Após impasses na tentativa de mudar de partido, aliados do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia tentam costurar sua permanência no DEM com uma pacificação com o presidente nacional da legenda, ACM Neto. Ao GLOBO, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (RJ) afirmou que o esforço envolve parlamentares do partido e até o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Ontem, ACM Neto viajou ao Rio para participar de um jantar com Paes.

Procurado pelo GLOBO, o presidente do DEM disse apenas que se trata de um encontro rotineiro para debater assuntos gerais, incluindo o panorama político local e nacional. Paes não se manifestou. Maia limitou-se a afirmar que “já encaminhou sua saída” do partido. Ele sinalizou a aliados que pode ir para o PSDB, do governador de São Paulo, João Doria, mas o movimento dependeria da adesão também de seu grupo político, o que é incerto.

Sóstenes, um dos líderes da bancada evangélica na Câmara e aliado próximo a Maia na política fluminense, disse que vinha tentando “pacificar internamente para ele (Maia) permanecer” no DEM. O próprio deputado, porém, ameaçou deixar o partido no último fim de semana, criticando a iniciativa de ACM Neto de criar um “comitê da diversidade” no DEM, o que avaliou como “guinada à esquerda ”. Para Sóstenes, que é próximo ao pastor Silas Malafaia, ACM Neto tenta descolar o partido do bolsonarismo por “estar pensando na sua eleição ao governo da Bahia (em 2022)”, estado em que a avaliação do presidente é majoritariamente negativa.

—Estava tentando pacificar pela permanência do Rodrigo (Maia). O Eduardo (Paes), que também entrou nesse esforço, me disse que a chance de apoiar uma chapa de esquerda no Rio é zero. Só que o ACM Neto resolveu fazer esta guinada. Depois da minha manifestação no sábado contra esta atitude mesquinha, conversei com o Rodrigo e ele me sinalizou que iria para o PSDB —afirmou Sóstenes.

CONVITE DO MDB

Maia havia sido convidado a se filiar ao MDB pelo presidente nacional da legenda, deputado Baleia Rossi (SP). O desenho local do partido, contudo, é uma barreira à tentativa do próprio Maia de capitanear uma oposição do chamado centro político ao bolsonarismo. Aliado do presidente Jair Bolsonaro, de quem o ex-presidente da Câmara tornou-se adversário político, o governador em exercício Cláudio Castro (PSC) tem o apoio de prefeitos da Baixada Fluminense com influência no MDB, como Washington Reis (Duque de Caxias) e Waguinho (Belford Roxo).

Com o impasse, o PSDB passou a negociar a filiação de Maia, oferecendo a ele “resistência zero”, segundo uma liderança tucana, na construção de uma chapa ao governo do Rio. O partido tenta convencer o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Felipe Santa Cruz, que tem boa relação com Maia, a ser o candidato. A articulação envolve Doria e o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, que também têm interesse na filiação de Paes. Em entrevista ontem à Rádio Gaúcha, Paes elogiou o governadorgaúcho Eduardo Leite e disse que o apoiaria numa campanha à Presidência. Leite disputa com Doria a possibilidade de ser o presidenciável tucano em 2022.

“Hoje ele é o quadro mais qualificado do Brasil e quero dizer que se ele for em frente com essa candidatura presidencial, já tem um cabo eleitoral na cidade do Rio de Janeiro. Vou fazer campanha para o Eduardo Leite, é só dizer que é candidato”, afirmou Paes.

RECONSTRUÇÃO NO RIO

Na avaliação da cúpula do PSDB, a filiação de Maia ajudaria o partido a reconstruir seu diretório fluminense de olho na ampliação da bancada federal — hoje, o partido não ocupa nenhuma das 46 cadeiras de deputados do Rio. A falta de estrutura local é justamente um dos empecilhos para que o ex-presidente da Câmara convença outros parlamentares a seguirem este caminho. Outro problema, no caso dos deputados mais próximos a Bolsonaro, é a oposição do PSDB ao governo federal. Sozinho, Maia desistiria da ideia, segundo interlocutores tucanos.

Maia rompeu com a cúpula do DEM acusando ACM Neto de ter abandonado o projeto da eleição de seu sucessor na Câmara. Apesar do apoio de Maia a Baleia Rossi, a bancada do DEM foi liberada na votação, e parte dela endossou a candidatura vencedora de Arthur Lira (PP-AL), apoiado por Bolsonaro. Segundo uma liderança do DEM, as críticas de Maia foram mal recebidas pela bancada federal, o que dificulta, mas não inviabiliza, uma eventual permanência no partido. Maia não chegou a pedir sua desfiliação, hipótese aventada por ele mesmo ao deixar o comando da Câmara.