O Globo, n. 32026, 13/04/2021, Economia, p. 18

 

Indicado de Bolsonaro é eleito para conselho da Petrobras

Bruno Rosa

13/04/2021

 

 

O governo conseguiu emplacar sete dos oito candidatos a uma vaga no Conselho de Administração da Petrobras em assembleia geral extraordinária. Um dos eleitos é o general Joaquim Silva e Luna, que fica mais perto agora de assumir a presidência da companhia. Com a nova composição do colegiado definida, o conselho ainda deve se reunir para avaliar o nome do indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para o comando da estatal.

Em seu blog, o colunista do GLOBO Lauro Jardim antecipou que após ser eleito presidente, a expectativa é que Silva e Luna faça em breve uma alteração administrativa que agrada ao presidente: antecipar a volta ao trabalho presencial. Ele teria feito a indicação em reuniões prévias com diretores e gestores da Petrobras. O home office na Petrobras estava definido até junho, mas era consenso na diretoria que seria estendido até dezembro.

Segundo o colunista, além da insatisfação com os reajustes de combustíveis praticados pela empresa, em linha com a política de repasse das variações na cotação do dólar e do petróleo no mercado internacional, Bolsonaro também tinha queixas em relação ao regime de trabalho remoto adotado pelo presidente da empresa na pandemia.

Além de Silva e Luna foram eleitos por meio do sistema de voto múltiplo: Eduardo Bacellar Leal Ferreira (que assumirá o posto de presidente do conselho), Ruy Flaks Schneider, Márcio Andrade Weber, Murilo Marroquim de Souza, Sonia Julia Sulzbeck Villalobos e Cynthia Santana Silveira.

O nome de Weber chegou a ser declarado inelegível pelo Comitê de Pessoas da Petrobras, responsável por avaliar as inscrições. Ainda assim, ele conquistou uma vaga. A representante do governo na assembleia, a procuradora Maria Teresa Lima, disse não ver problemas na candidatura dele.

A tentativa dos acionistas minoritários de ampliar sua presença no conselho não deu certo e eles continuam a contar com três assentos entre as 11 vagas no colegiado. Das três vagas, apenas um é recémeleito, Marcelo Gasparino, que já ocupava uma vaga no Conselho Fiscal, os outros dois integrantes já compunham o colegiado.

Para tentar ampliar sua voz na mesa de decisões, os minoritários lançaram quatro candidaturas. O advogado Leonardo Antonelli e o banqueiro Juca Abdalla, maior acionista privado da estatal, desistiram e não participaram do processo da eleição. Outro nome, o de Pedro Rodrigues, foi declarado inelegível pelo Comitê de Pessoas e não foi eleito. Desta forma, apenas Gasparino conquistou uma vaga.

SAÍDA DE CASTELLO BRANCO

Antes de votar a nova composição do colegiado, os acionistas aprovaram a destituição de Roberto Castello Branco do conselho com apoio de 58,28% dos presentes. A União votou pela saída do executivo e foi acompanhada pelo BNDES, sócio relevante da petroleira. Representantes de fundos do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e da Previ se abstiveram. Na prática, 21,88% dos acionistas foram contra a saída do executivo e 19,8% se abstiveram.

A assembleia começou com polêmica. Em sua manifestação, Marcelo Gasparino, eleito para uma vaga no conselho como representante dos minoritários e membro do Conselho Fiscal, destacou a divergência entre o boletim de voto à distância e o resultado no mapa consolidado de votação, com diferentes versõesdos boletins em português e inglês.

—A minha questão é em decorrência do mapa consolidado do boletim de voto à distância. Há divergências que foram levantadas entre o voto depositado e o resultado no mapa. Por isso, minha proposta é suspender a assembleia para revisar o cômputo de votos —disse Gasparino.

A Petrobras, através de sua área técnica, disse que não havia divergência e negou o pedido de suspensão. Daniel Ferreira, membro do Conselho Fiscal, mostrou preocupação com as divergências entre os sistemas da B3 e da Petrobras.

— É uma situação complicada de seguir com a assembleia. Nunca tivemos três membros independentes disputando uma vaga — disse Ferreira, mas mesmo assim o pedido foi negado.