Título: Vale sobe no ranking mundial
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 04/03/2005, Economia & Negócios, p. A17
Reajuste de 71,5% do minério leva empresa ao terceiro lugar entre as grandes mineradoras. Arcelor cede e aceita aumento
Com as surpreendentes negociações das últimas semanas para o reajuste do preço do minério de ferro, a Companhia Vale o Rio Doce (CVRD) tornou-se, no início desta semana, a terceira maior empresa de mineração do mundo em valor de mercado, com US$ 38,2 bilhões. A companhia passou a figurar na posição antes ocupada pela sul-africana Anglo América, que hoje tem valor de mercado de US$ 37,2 bilhões, e só fica abaixo da líder BHP Billiton e da vice Rio Tinto.
Este é o segundo salto consecutivo no posicionamento da mineradora brasileira, que em 2003 estava na quinta posição do ranking (US$ 21,6 bilhões), passando a quarto lugar no final do ano passado (US$ 31,8 bilhões).
- Este é o resultado de uma política de foco no nosso negócio, que é mineração, e do aquecimento do mercado internacional por conta da forte demanda chinesa. Estes dois fatores coincidiram no momento certo - comenta o diretor-executivo de Finanças da CVRD, Fábio Barbosa, referindo-se ao desinvestimento em negócios de celulose, navegação e projetos maduros de siderurgia. A estratégia ganhou força a partir de 2001, após o descruzamento das ações da Vale com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
Por outro lado, a Vale voltou seu foco para a aquisição de novas minas no Brasil e no exterior, inclusive de cobre. O gigantismo que ganhou nos últimos anos permitiu que, pelo terceiro ano seguido, a companhia saísse na frente nas negociações do reajuste internacional no preço do minério de ferro.
Este ano a mineradora superou a estimativa da maior parte dos analistas do setor, conseguindo reajuste de 71,5%. As projeções eram de uma elevação de, no máximo, 50%. Outro fator que chamou a atenção dos analistas foi o fato de, pela primeira vez, o acordo com as siderúrgicas começar a ser fechado a partir do mercado asiático, iniciado pelo Japão com a Nippon Steel.
- As negociações com o Japão, China e Europa correram paralelamente. Os japoneses entenderam mais rápido o que estava acontecendo no mercado (de forte escassez e de grande demanda) e tiveram uma postura pró-ativa. Não houve ênfase maior na frente que negociava no Japão - explica Barbosa.
O diretor de Novos Negócios da Vale, José Carlos Martins, lembra que o mesmo movimento aconteceu na negociação em torno do carvão mineral, que teve o primeiro acordo deste ano, alta de 120%, fechado no Japão. O executivo ressalta, ainda, que foi justamente o preço do carvão o grande balizador das negociações para o reajuste do minério de ferro.
Ele lembra também que outra referência de preço que as siderúrgicas estavam observando era a cotação do minério de ferro no mercado spot da Índia (em torno de US$ 60 e US$ 70).
Ontem, a CVRD concluiu negociação com a Arcelor - a maior siderúrgica Europa. A transação era considerada a mais espinhosa para a mineradora, principalmente por conta das declarações da empresa de que não aceitaria o reajuste aplicado no Japão. A Vale, no entanto, venceu a queda de braço e conseguiu reajustar o minério de ferro fino em 71,5%.
Foi fechado, também, o preço para as pelotas que serão vendidas às siderúrgicas brasileiras do grupo francês, de 86,67% e 86,43%.
- O reajuste foi satisfatório. O mercado de pelotas está mais apertado do que o de minério fino, por isto o reajuste foi maior - comenta Martins.