O Globo, n. 32027, 14/04/2021, País, p. 10

 

Candidatura tucana para defender legado de quase 30 anos ainda é discutida

Tiago Dantas

14/04/2021

 

 

Desde 1994, a marca da eleição para o governo do estado de São Paulo é a continuidade. Candidatos do PSDB foram eleitos de forma consecutiva nos últimos sete pleitos. Como o atual governador, João Doria, pretende concorrer à Presidência em 2022, o nome natural para a sucessão é o do vice-governador Rodrigo Garcia (DEM), que pode até virar tucano para garantir a entrada na disputa.

O cenário, porém, ainda é incerto. Doria já disse que pode tentar a reeleição caso o plano presidencial não vá adiante e, além disso, o exgovernador Geraldo Alckmin tem articulado, com prefeitos do interior e uma ala da sigla, sua volta ao Palácio dos Bandeirantes.

A ideia de lançar Garcia envolvia atrair o DEM para uma aliança nacional a favor de Doria. O apoio de parte do DEM à eleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência na Câmara dos Deputados no início de fevereiro, no entanto, lançou dúvidas sobre a manutenção do acordo até o ano que vem. O DEM rachou, Rodrigo Maia (DEM-RJ) pediu para sair da legenda e políticos ligados a Doria sugeriram que Garcia se filiasse ao PSDB.

Embora garantisse sua participação na disputa, a troca de partido faria o vicegovernador perder o controle sobre o DEM em São Paulo. Nas eleições municipais do ano passado, a sigla se tornou a segunda que mais controla cidades no estado: 67 —atrás do PSDB (172 municípios) e à frente do MDB (53).

Garcia, que ainda figura com baixa intenção de voto nas pesquisas, tem aparecido mais desde o mês passado. Assumiu o comando, duas vezes por semana, da coletiva de imprensa com anúncios sobre medidas tomadas pelo governo do estado contra a Covid-19. Ex-secretário estadual em gestões anteriores do PSDB, Garcia é visto como alguém que conhece a máquina estadual e participa do dia a dia do governo.

Doria ainda precisa vencer as prévias do PSDB para ser confirmado como candidato à Presidência. Por isso, no início de março, passou a admitir que pode concorrer à reeleição. O caminho de Garcia pode ser atrapalhado também por Alckmin, que já ocupou o governo paulista em quatro oportunidades. Aliados de Doria gostariam que o exgovernador tentasse vencer uma vaga na Câmara.

Enquanto PSDB ainda define quem vai defender o legado de quase três décadas, PT discute se o ex-ministro Fernando Haddad deve sair candidato e Guilherme Boulos se apresenta como candidato do PSOL, outros possíveis concorrentes se apresentam. A eleição deve ter um nome bolsonarista, que pode ser o empresário Paulo Skaf, que já tentou o Bandeirantes outras vezes, ou o ex-ministro Abraham Weintraub. Outros nomes que devem estar na disputa são o ex-governador Márcio França (PSB), que perdeu o segundo turno em 2018, e o deputado estadual Arthur do Val (Patriota).