O Globo, n. 32028, 15/04/2021, País, p. 4
Entrevista - Eduardo Gomes: “Incluir repasses a governadores não é manobra”
Eduardo Gomes
Paulo Cappelli
15/04/2021
A CPI pode funcionar de forma remota?
Não. Porque as arguições vão perder qualidade e segurança. Se (um investigado) depuser em casa, pode usar um teleprompter, ter mais pessoas ajudando, sem que o Senado saiba. Além disso, parlamentares que teriam direito de participar da CPI ficariam impedidos por conta das restrições sanitárias.
Quais os riscos dessa CPI para o governo?
Como o objeto apontado central é a crise de Manaus, o governo vai ter que apresentar informações sobre a crise envolvendo essa região.
Incluir repasses a estados e municípios é manobra diversionista para dispersar o foco?
Não. Quando a CPI do Randolfe foi juntada à protocolada pelo Eduardo Girão (Podemos-CE), é de mérito que seja investigada transferência de recursos federais para estados e municípios. Trata-se de um fato vinculado ao funcionamento e à razão da CPI.
Quais impactos concretos, resultados, essa CPI pode apresentar?
Mais do que punitiva, a CPI deixará claro que o sistema integrado de saúde necessita de uma previsibilidade que não havia e também de investimento conjunto. Sem delinear culpados, o que o Brasil e o mundo descobriram é a profundidade da crise nos sistemas de saúde.
A CPI deverá chamar secretários estaduais e municipais de saúde, prefeitos e governadores para depor?
Acredito que sim. O impeditivo é a questão sanitária.
Mesmo se o sistema for híbrido ou remoto?
Sim.
A CPI deverá chamar para depor todos os ministros da que estiveram à frente da Saúde na pandemia?
Se fizer isso, será o normal. Essa crise teve começo, mas não sabemos onde está o meio nem o fim.
Quanto tempo deve durar?
Nas atuais circunstâncias, dura pouco tempo. No máximo, estourando, três meses.
Há pressa para ficar o mais distante possível da eleição?
Não. O Brasil precisa ter outras pautas, que são de extrema importância. Tem as questões da própria pandemia e reformas para aprovar.